“DEUS AMA A QUEM DÁ COM ALEGRIA”
Caros irmãos e irmãs,
Muitas pessoas,
infelizmente, criaram – graças a algumas seitas que agem de má fé – uma deturpação
e uma impressão errônea acerca de um termo e um preceito bíblico: o Dízimo.
Neste mês, ao dirigir-me aos meus diocesanos, desejo fazer uma catequese sobre
tal assunto, abordando-o serenamente.
O que é o Dízimo? É uma contribuição
mensal e consciente. É uma devolução a Deus, através da comunidade cristã, de
uma parcela de todos os nossos rendimentos, em forma de agradecimento pelas
dádivas que recebemos do Criador; é, em termos práticos, uma ajuda reservada e
consagrada para a manutenção da Igreja e para o auxílio de suas necessidades
materiais, inclusive para o socorro dos pobres. Muita gente confunde Dízimo com
oferta. Entretanto, há uma grandíssima diferença: a oferta é uma contribuição
espontânea, livre e não obrigatória, mesmo sendo um gesto de agradecimento a
Deus por tudo quanto Ele nos dispensa (trabalho, fé, saúde, pão...). Dízimo e
oferta se complementam e são a base de sustentação material de nossas pastorais
e movimentos paroquiais e diocesanos, permitindo que a Palavra de Deus seja proclamada
e os Sacramentos realizados, manifestando a presença divina a tantos quantos
dela carecem, tendo sempre em primeiríssimo lugar a propagação do Reino de
Deus.
A Bíblia – seja no
Antigo ou no Novo Testamento – testemunha Deus pedindo Dízimo e ofertas ao seu
povo, que, através delas, manifestavam um tributo de reconhecimento à Sua
Providência. O Dízimo é mandamento: “Todos os dízimos da terra […] são
propriedade do Senhor: é uma coisa consagrada ao Senhor” (Lv 27,30); “Porás à
parte o dízimo de todo fruto de tuas semeaduras, de tudo o que o teu campo
produzir cada ano” (Dt 14,22). Antes mesmo de ser um preceito mosaico, o Livro
do Gênesis é categórico: “E Abrão deu-lhe [a Melquisedec] o dízimo de tudo” (Gn
14,20). Também o Profeta Malaquias tece uma referência à experiência do Dízimo,
acompanhada de uma promessa de Deus: “Pagai integralmente os dízimos ao tesouro
do templo, para que haja alimento em minha casa. Fazei a experiência - diz o
Senhor dos exércitos - e vereis se não vos abro os reservatórios do céu e se
não derramo a minha bênção sobre vós muito além do necessário” (Ml 3,10).
O Apóstolo Paulo, ao
tratar do Dízimo, recorre à consciência do cristão, afirmando que cada um doe a
quantia que o coração mandar, esquivando-se do estipular valores: “Dê cada um
conforme o impulso do seu coração, sem tristeza nem constrangimento. Deus ama o
que dá com alegria” (2Cor 9,7). Assim, um bom dizimista é o que tem um coração
generoso e agradecido, ainda que ofereça o que Jesus chama de ‘óbulo da viúva’
(cf. Mc 12,42), pois a justiça não se mede pelo valor do Dízimo, mas pela
sinceridade interior. A gratuidade também ser-nos-á necessária nesta
experiência. Ao devolver o Dízimo não devemos esperar algo em troca, nem sermos
elogiados por causa da quantia oferecida, mas sim expressar a Deus nosso amor-gratidão
pelos dons recebidos.
O ato de devolução do
Dízimo possui uma tríplice dimensão: 1) Dimensão Religiosa: destina-se à
manutenção da comunidade cristã, compartilhando das suas despesas, tal como
acontece em nossas famílias, pois a Igreja é a família de Deus; 2) Dimensão
Missionária: como a missão da Igreja é evangelizar, o Dízimo dá suporte para a
realização de todo projeto missionário das comunidades: formação de agentes das
pastorais, manutenção da Diocese, ajuda aos Seminários (em parceria com a OVS),
enfim, tudo aquilo que colabora para a evangelização; 3) Dimensão Social: na
comunidade cristã, ninguém pode passar necessidades (cf. At 4,34-35), assim
sendo, o Dízimo é um contributo para o atendimento material dos pobres,
doentes, desamparados e aqueles que não podem prover o seu sustento.
O lugar exclusivo
para contribuir com o Dízimo é a Igreja. Dessa forma, exclui-se naturalmente um
possível substitutivo a ele. Muitos dizem que não dão o Dízimo porque dão diretamente
aos pobres. Está errado! Ajudar os pobres é caridade e não Dízimo. Ajudar o
próximo e contribuir com o Dizimo são obrigações distintas. Outros dizem que
devolvem o Dízimo em doações esporádicas. Também aqui há um equívoco: a
generosidade em contribuir com uma campanha de qualquer natureza (ainda que promovida
pela Igreja) não deve isentar o cristão do dever do Dízimo.
A devolução do Dízimo
é um dever comum aos cristãos: aos Bispos, Padres, Diáconos, Religiosos, fieis
leigos, mesmo aos que prestam qualquer serviço espontâneo na comunidade. Devemos
ser os primeiros a dar bom exemplo de maneira consciente e com a convicção da
fé que é capaz de dizer: “Recebei, Senhor, o
meu Dízimo. Ela não é uma esmola, porque não sois mendigo. Não é apenas uma
contribuição porque não precisais dela. Não é o resto que me sobra que vos
ofereço. Esta importância, Senhor, representa a minha gratidão e o meu
reconhecimento, pois se tenho algo, é porque vós me
destes. Amém!” (Oração dos Dizimistas).
Que
Deus continue derramando sobre nós abundantes bênçãos ainda que elas superem
imensamente a generosidade do nosso coração.
Por
Dom Dulcênio Fontes de Matos
Bispo Diocesano de Palmeira
dos Índios
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