MARIA, RAINHA DAS FAMÍLIAS, ATENTA NAS BODAS DE CANÁ
Quando o homem e uma mulher se decidem a, livre e
espontaneamente, aceitar-se em matrimônio, acontece o plano de Deus. É como se
o sonho de Deus se tornasse realidade no ato que faz de dois corações um só.O
vínculo matrimonial não é obra simplesmente de um ato humano, mas do Amor
Divino que quer palpitar no coração daqueles dois seres que, pela comunhão de
vida, desejam fazer-se uma só carne.
O problema está naqueles que abraçam a vida
matrimonial,e se esquecem de que são instrumentos do Amor Divino. E desde
descurar, começam a pautar a sua vida conjugal nos aspectos humanos, que como
passar do tempo, tornam-se efêmeros e insuficientes, fazendo-os cair na
monotonia e no desgaste tamanhos que se torna insustentável o viver a dois.É
preciso que os casais tenham em mente de que a sua vida a dois deva
corresponder àquilo que é querido de Deus, e que a sua vida matrimonial é fruto
de um amor de Cristo que os uneà obra de Deus.
O sinal que está nas Bodas de Caná é um convite para
irmos ao encontro do único e verdadeiro amor das nossas vidas, correspondendo,
assim, à nossa vocação específica: eu, como consagrado, como Bispo da Igreja; e
aqueles que se receberam pelo matrimônio através de um amor-comunhão de duas
vidas. Isto é prezar pelo vinho novo,principalmente quando se acaba o vinho
inferior, o vinho antigo, o vinho quase vinagre que tenta botar uma mácula no coração
das famílias. Maria aparece como intercessora e mediadora. Aquela que sabe
olhar a necessidade dos irmãos vai dizer ao Filho que está faltando o essencial
para a festa.Ela o faz confiandon’Ele, sugerindo que tenhamos igual confiança. A Mãe
das Famílias tem o seu coração entristecido por ver que tantos e tantos lares
estão nos dissabores da falta de amor, de compreensão e de respeito.
A presença de Jesus na vida a dois é garantia de que o
essencial jamais faltará, e que, mesmo que as dificuldades conjugais advenham,
Ele está pronto para ajudar a solucioná-las.Como Deus é dotado de uma grande
capacidade criativa, Ele fortalece o relacionamento de cada dia. E, diante de
momentos cruciais ou mesmo de alegrias e satisfação, a presença espiritual de
Maria (que nunca vem sozinha, mas acompanhada de seu Filho)numa boda,numa vida
a dois, pode ser vista como sinal do seu compromisso com avida conjugal, com a
vida das famílias, e um convite comum à ousadia do Evangelho.
O simbolismo da transformação da água em vinho sugere
a necessidade de transformação que a ‘construção do casal’ exige. A ideia de
festa que perpassa por este evangelho das Bodas de Caná é um convite à alegria
dos esposos e, simultaneamente, um convite à confiança em Jesus, a exemplo de
Maria.Ela alerta, em primeiro lugar, para o vinho que falta na relação conjugal,
e, enfim nas famílias.A sua sensibilidade viu a carência dos noivos. Jesus
supriu as suas necessidades e os serventes obedeceram: o vinho da transformação
era de melhor qualidade do que o anterior, e é a marca da ação de Jesus.A esta
associação de fatos ao inesperado, os noivos convidaram Jesus e sua mãe para
festa e a transformação aconteceu.Não seria um convite premente, por parte das
nossas famílias, para que Jesus e sua mãe se façam presente nelas, transformando
as dores, as cruzes e as dificuldades em momentos felizes de festa de Deus?
Creio que neste momento são plausíveis alguns
questionamentos que as famílias podem responder no íntimo do interior de cada
uma delas mesmas. Primeira pergunta: confiamos em Jesus e escutamos o que Ele
nos diz?Executamos o que Maria nos sugere quando diz: façam o que ele lhes
disser?Os casais se dão conta de que a vida a dois é um ‘verdadeiro milagre’?Que
significado atribuem ao papel de Deus desse ‘milagre’ cotidiano? Será que o ‘vinho’
do amor não está insípido, sem gosto, por causa da rotina da vida e de
elementos estranhos que desejam se instalar no âmago da vida matrimonial?E o da
compreensão que exige uma escuta diferente?Como anda o diálogo na vida a dois?E
a partir da vida a dois na vida de toda a família? Não será que Maria alerta em
primeiro lugar para o vinho que falta na relação conjugal das famílias e com
aqueles que as rodeiam?
Mediante estas perguntas que iluminarão a análiseda
vida a dois, é preciso que se veja o casamento renovável diariamente pelo Matrimônio
(cotidianamente bem vivido) como ato mesmo de Cristo. O sacramento do
matrimônio vem unir duas pessoas,duas vidas, mas um terceiro associa-se a essa
união: Cristo casa os esposos e serve-se deles para ministros.Não é só no dia
da celebração do casamento que Cristo oferece aos esposos as suas graças de
amor, mas igualmente ao longo da vida em que Cristo não estará somente perto
deles, mas neles.Isso é fazer de Cristo o vinho novo da Alegria, o vinho constante
da Sua presença renovadora, ovinho de sabor único para as famílias, a começar
dos casais.
O sacramento do matrimônio é uma fonte permanente de
graça para os esposos.Enquanto durar a sua vida conjugal,“o casamento permanece,
logo após a sua realização, uma fonte de graças: a sua união, o seu compromisso
permanente não deixa de ser, para os esposos, a sua própria aliança à graça do
Senhor, com a qual Deus se serve para santificar,espiritualizar, divinizar cada
um, assim como aperfeiçoar o seu amor e a sua união” (Padre Henry Caffarel).
A vida do casal na vida mesma de Cristo recebe graças
de amor. Graças estas que o Senhor não as deixa de dispensar: de cura e
purificação, transfiguração e fecundidade, que brotam do Coração de
Jesus.Colaboradores de Deus e corredentores com Cristo, os pais têm o dever não
somente de despertar nos seus filhos, mas de cultivar (como um trabalho de
todos e para todos de um lar) o sentido de quererem modelar-se à semelhança do
seu ‘Irmão Divino’. Cultivando as graças do seu Batismo, o sacramento
diariamente renovado do Matrimônio nasce do coração de Deus e age como sinal de
graça para os cônjuges,que se situam ao lado de Deus, comungando com Ele. Creio
ser ainda pertinente perguntar: como agem os esposos diante da presença de Cristo
que lhes fortalece a fé e os votos de amor, respeito, fidelidade e colaboração
na obra da criação feitos no dia do Matrimônio?
Por fim, queridos irmãos,
assim como Maria foi atenta às necessidades dos noivos de Caná, peçamos-lhe
também patrocine as nossas famílias, os nossos casais:“Maria, Rainha das Famílias,
atenta nas Bodas de Caná, faz de nós pessoas com olhos abertos e mãos
disponíveis a tantos que se embriagam com vinho ruim da falsa felicidade.Distanciam-se
de Deus, de seus semelhantes e destroem a natureza do vínculo conjugal. As
nossas famílias necessitam do vinho da Alegria, de Vida com sentido, com sabor,
com beleza.As nossas famílias carecem de Deus por não saber procura-Lo como
convém. Mostra-nos o Teu Jesus, ó Mãe, e que possamos escutar-te,
instantaneamente, a nos dizer:‘Fazei tudo o que Ele vos disser!’”
DOM DULCÊNIO FONTES DE MATOS
Bispo Diocesano
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