A VIDA É MISSÃO

 

Findando o mês de outubro, despedimo-nos do temático Mês Missionário, mas não nos despedimos da missão, que é constante em nossa vida cristã. Foi o Papa Pio XI que, em 1926, instituiu o Dia Missionário Mundial, a ser celebrado no penúltimo domingo de outubro, recordando sempre à Igreja qual a sua missão: “Ide, portanto, e fazei que todas as nações se tornem discípulos, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo e ensinando-as a observar tudo que vos ordenei.” (Mt 28,19). Eis a fonte e a meta da missão da Igreja: de Deus ela recebe sua missão e para Deus ela conduz todos povos.

O Decreto Ad Gentes (sobre a Atividade Missionária da Igreja), do Concílio Vaticano II, assim se expressa ao falar da missão da Igreja: “A Igreja peregrina é por sua natureza missionária. Pois ela se origina da missão do Filho e da missão do Espírito Santo, segundo o desígnio de Deus Pai.” (nº 2). De fato, Cristo é o missionário do Pai que, enviado ao mundo, opera a salvação do gênero humano pelo Mistério Pascal, sempre vivificado pela força e graça do Espírito Santo. Deste modo, a Igreja é mandada a todos os povos para tornar o Evangelho do Reino presente nos corações dos homens, pois assim seu Senhor determinou: “Como o Pai me enviou, também eu vos envio.” (Jo 20,21). Ao cumprir este mandato missionário, a Igreja realiza-se plenamente, pois não pode fugir à sua essência. Assim como exclama o Apóstolo São Paulo, a Igreja deve constantemente dizer a si mesma: “Ai de mim se eu não anunciar o Evangelho!” (1 Cor 9,16). Com a Igreja, também todos os batizados devem examinar como estão correspondendo ao mandato missionário de Jesus, pois a missão não é um acessório da vida cristã, mas algo essencial dos que se decidiram caminhar com Cristo. De muitos modos podemos viver a essência missionária do ser cristão, pois a Igreja também, de maneiras diversas, realiza sua atividade missionária. “A Igreja cumpre sua missão quando em ato pleno se faz presente a todos os homens ou povos, a fim de levá-los à fé, à liberdade e à paz de Cristo, pelo exemplo da vida, pela pregação, pelos sacramentos e demais meios da graça. E assim se lhes abre um caminho desimpedido e seguro à plena participação no mistério de Cristo.” (Ad Gentes, nº 5). Foi esta intuição que nos fez refletir, neste ano de 2020, o seguinte tema para o Mês Missionário: a vida é missão. Isto quer significar que não é uma parte da existência da Igreja ou dos cristãos que deve estar voltada à missão, ou que a missão é exclusividade de quem sai de sua terra para evangelizar em outras nações ou povos, ou ainda que a missão é para quem sabe utilizar discursos e pregações para falar de Deus. Não! A missão é a vida da Igreja e a vida dos cristãos, pois sempre estamos a realizar a missão de anunciar o Evangelho, mesmo nos momentos mais simples e despercebidos do cotidiano. Renunciar a isto é renunciar a ser cristão, é renunciar a ser Igreja.

Recordando aos cristãos este dever missionário, o Papa São Paulo VI (na Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi), por ocasião do 10º aniversário de encerramento do Concílio Vaticano II, em 08 de dezembro de 1975, trouxe à baila o exemplo de Maria Santíssima, chamando-a com o apelativo de “Estrela da Evangelização”, fazendo uma referência muito significativa ao evento de Pentecostes, no qual Nossa Senhora desponta como aquela que precede todo o movimento missionário desde aquele momento até os dias atuais. Como naquele momento da história (pós Vaticano II), vivemos dias difíceis, inseguros e cheios de medo, mas também cheios de esperança em Deus. Maria, a Estrela da Evangelização, seja, de verdade, o tipo da Igreja também em sua vida missionária. Quando não restar mais nada de belo neste mundo em que fixar o olhar, que a Igreja esteja, como Maria ao pé da cruz, contemplando o Cristo crucificado e, sem vacilar, refletindo o rosto do Salvador para o mundo carente de Deus, para o mundo que só precisa de Deus.

 

PE. JACYEL SOARES MACIEL

(Pároco da Paróquia Senhora Sant’Ana – Santana do Ipanema)

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