ORDENAÇÃO PREBITERAL DE UM MISSIONÁRIO DA CONSOLATA EM SANTANA DO IPANEMA- AL
Padre Manoel recebendo a bênção de Dom Dulcênio
Uma
ordenação sacerdotal inesquecível
O salão da “Quadra do
Menor”, dedicado a São Gabriel, situado na Paróquia São Cristóvão, em Santana
do Ipanema - AL, sempre é palco de jogos e decisões desportivas. O salão da
Quadra estava tomado pela presença de cerca de três mil pessoas. De manhã, um
grupo alegre de jovens fez a limpeza do salão. Outro montava o sistema de som,
outro ainda, ornamentava o altar. Assim, o palco foi transformado numa mesa de
altar com toalhas brancas evidenciando a riqueza das flores com seu perfume
agradável. A parede foi revestida de tecido branco e foram colocados os quadros
do Bem-aventurado José Allamano e Nossa Senhora da Consolata. Cadeiras e uma mesinha com vários objetos
litúrgicos anunciavam um evento inesquecível. Ao fundo do altar estava visível
a Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo. No domingo, dia 28 de setembro, fazia um
silêncio nunca visto a partir das 19 horas. Dava-se início a uma grande
celebração. Não era qualquer uma. Era uma celebração de quem, ao se aproximar
do altar, era e é chamado todos os dias, a conformar sua vida com o Crucificado
e o Ressuscitado.
Formou-se uma longa
fila de coroinhas, leitores, três sacerdotes diocesanos que caminhavam em
direção ao salão, junto com os missionários da Consolata, o diácono Manuel e Dom
Dulcênio Fontes de Matos, Bispo de Palmeira dos Índios, presidente da Celebração
Eucarística. Com o canto “Igreja santa, templo do Senhor...” fez-se um ambiente
propício de uma Igreja viva que rezava, louvava e agradecia a Deus. .
Iniciava-se a celebração de ordenação sacerdotal do diácono Manuel Pereira dos
Santos, IMC, filho desta terra de Santana do Ipanema - AL. Padre Clejean Melo
da Silva, pároco de São Cristóvão, acolheu e saudou a todos. Após a proclamação
das leituras da liturgia dominical cantadas solenemente, Pe. Luiz Carlos Emer,
Provincial dos missionários da Consolata apresentou o candidato, diácono Manuel,
ao bispo Dom Dulcênio para ser admitido na ordem do presbiterado. Após o
interrogatório e sua aprovação, a assembleia acolheu o futuro sacerdote com uma
salva de palmas.
Dom Dulcênio fez uma
reflexão muito rica e profunda a partir das leituras próprias do domingo.
Traçou um paralelo com a vida cristã, mas de modo particular aos sacerdotes
presentes e ao diácono Manuel.
Em primeiro lugar, Dom
Dulcênio fez uma indagação ao analisar a figura dos dois filhos que um Pai
tinha. Frisou a necessidade da conversão e da misericórdia. O primeiro filho disse
“sim” e o segundo, disse “não”. O bom filho ‘generoso’ disse logo seu “sim”, ao
passo, que o filho ‘rebelde’ disse “não”. O bispo indagou a comunidade para
saber qual dos dois fez a vontade do Pai. E perguntou: De que adianta termos um
bom comportamento, viver piedosamente, se não fizermos o que Deus pede de nós?
Passou a citar alguns exemplos evidenciando a importância de ouvir a voz do Pai
e de obedecê-lo: uma pessoa muito nova dá-se à prática do furto, mas essa mesma
pessoa habilita-se para salvar alguém; há um casal que não vive segundo as
normas da Igreja, mas é capaz de organizar uma vaquinha para ajudar uma família
que está passando necessidade; um alcoólatra deixa-o de ser e torna-se membro
do Terço dos homens. Por outro lado podemos também nós, leigos, padres e até
bispos, afirmar que nossa opção preferencial é pelos pobres, mas depois o sim
sem perseverança se distancia dos pobres. Qual destes é o justo? - indagou o
bispo. Podemos dizer com facilidade ‘sim, Senhor’ e corrermos o risco de não
fazer a Vontade do Senhor. Como entender a discordância entre o falar e o agir?
Deus espera nossa conversão, isto é, sair da nossa acomodação e nos converter,
expulsando o formalismo religioso que leva a observar leis exteriores, sem
fazer de verdade o que Deus espera de nós: a conversão, a prática da justiça e a
solidariedade. Jesus não se apegou a privilégios divinos, mas fez a vontade do
Pai e morreu na cruz, como nos acentuou São João Paulo II: “Fazer a vontade do
Pai na obediência a Jesus”.
Em segundo lugar volveu seu olhar para o
diácono Manuel. O bispo fez o apelo para que o diácono Manuel, tome consciência
de que ao repetir as palavras da Consagração (Tomai e Comei) durante a missa,
não o faça sem se sentir implicado nesse movimento para fazer a Vontade do Pai.
O sacerdote deve saber viver com fé e com generosidade esse “Tomai e Comei”.
Jesus se doou e nós sacerdotes viveremos o chamado de Deus como Jesus no ‘tomai
e comei’. Isso se chama Amor-Doação. A vida do sacerdote só tem sentido se ele
souber ser “dom”, colocando-a ao serviço da comunidade e de qualquer ser humano
que passe necessidade. É isso o que Jesus espera de nós, sacerdotes – acentuou
o bispo. O estar com o povo, o ser pastor vem da identidade do Senhor Jesus que
deseja a continuidade de sua missão na pessoa de outros homens por Ele chamados
conferindo-lhes o mandato: “como o Pai me enviou também Eu vos envio”. O padre
é um outro Cristo, faz as vezes de Cristo, age ‘in persona Christi’. Aos
olhares de muitos cristãos o que impressiona é a afirmação de que um padre é
“como o Cristo que ficou no meio de nós”. É um Jesus à vista da gente: quando
prega a Palavra de Deus com autenticidade, quando no momento da consagração, da
absolvição no Sacramento da Reconciliação o faz com seu testemunho de vida no
amor-doação.
Em terceiro lugar, Dom
Dulcênio citou a mensagem de São João Paulo II quando disse: “Vocês são o
coração de Cristo”. Ao ressaltar a importância da missão de cada sacerdote, ofereceu
à assembleia muitos exemplos. Disse que o coração de Cristo bate com o ritmo
divino e perfeitamente humano. É preciso estar em Deus, é preciso ter uma
comunidade muito cultivada, muito sensível quase que empática. O padre é homem
de sentimentos e de uma humanidade a ser cultivada, que sabe vibrar e chorar
com os outros. O padre deve se alegrar com sua comunidade quando ela estiver
alegre. Chorar quando a comunidade não está bem. Acentuou a beleza de ser padre
com estas palavras: como é bonito ser padre, como é bom ser padre porque não se
trata de um status. O padre é livre para fazer as vezes de Cristo, pois a
verdadeira família é aquela em que o padre se encontra e por todos dá a
verdadeira atenção. O sacerdote é como uma rocha em alto mar. O padre também
vivendo sua vida unida ao Cristo é semelhante a Rocha desfazendo os males, os
desafios, as angústias das pessoas, aliviando-as e consolando-a. As águas do
mar desfazem-se ao bater contra a rocha, assim é o padre que ajuda as pessoas a
desfazerem-se das ondas pesadas reconduzindo-as às praias onde há águas mais
serenas. O sacerdote deve ser os ouvidos de Cristo, deve ser os braços de
Cristo para acolher e acalentar a dor. Deve também pulsar seu coração em total
sintonia com o coração de Cristo para saber perdoar. O Papa Francisco insiste
para que os sacerdotes sejam misericordiosos. Por isso, o sacerdote deve
sentar-se, acolher e ouvir os clamores das pessoas em quaisquer circunstâncias
com um coração misericordioso.
Dom Dulcênio concluiu
sua homilia dizendo que nenhum de nós sacerdotes, têm em si esta força, mas é
de Cristo que a recebemos, como seus representantes e instrumentos junto ao
povo de Deus. Como diz São Paulo: “Tudo posso naquele que me fortalece” (Fl 4,
13). Recitou a oração pelas vocações: “Divino Senhor Jesus Cristo concedei-nos
sacerdotes santos inflamados totalmente no vosso fogo de amor para a edificação
da vossa Igreja...”
Quando terminou sua
homilia, o silêncio da assembleia era visível tomado pela emoção das palavras
do bispo ao se referir sobre a missão do sacerdote. Muitos foram os que enxugaram
suas lágrimas que escorriam em seus rostos. O ambiente era marcado por um
silêncio profundo e de uma concentração que matinha o foco da celebração.
Seguiu-se o rito da
ordenação presbiteral do diácono Manuel Pereira dos Santos. Onze anos atrás
aconteceu a última ordenação sacerdotal na Paróquia de São Cristóvão. Todos os
olhares estavam fixos naquele que iria receber as ordens sagradas do ministério
presbiteral. A cada pergunta de Dom Dulcênio dirigida ao diácono soava nos
corações dos fieis, que tomados de emoção, viam e sentiam que esta celebração
veio para ficar como uma ordenação inesquecível, pois de muitos modos, a
maioria dos cristãos estavam conectados nesse evento. Enquanto o diácono estava
prostrado ao chão, o cântico da Ladainha de Todos os Santos soava como proteção
e intercessão pela fidelidade ao ministério sacerdotal de quem o abraçaria. A
substituição da estola transversal pela estola vertical, agora com o seu “sim,
quero” e a colocação da casula foi saudada com uma forte salva de palmas. Os
cânticos centrados na missão sacerdotal enquanto as mãos eram ungidas, e, em
seguida, foi-lhe oferecido pelo bispo ordenante o cálice com Pão e Vinho, o
abraço da paz. Ao fazer assim, o bispo lembrou ao neo-sacerdote, de que agora
em diante, devia tomar consciência daquilo que Pe. Manuel vai fazer a fim de
conformar sua vida com o Cristo crucificado e ressuscitado.
A celebração da
Eucaristia seguiu serena e tranquila seu percurso. O coral, que animou a
celebração, manteve a atenção da assembleia constantemente no fato central do
dia. No fim da celebração, o neo-sacerdote fez seu agradecimento e centrou suas
palavras na importância de ter uma família que o acompanhou entrando para uma
nova família, abrindo-o ao mundo missionário. Pe. Luiz Carlos Emer agradeceu a
família Pereira dos Santos pela generosa oferta à Igreja de seu filho para a
missão ad gentes. Agradeceu também a Dom Dulcênio pela celebração de ordenação
presbiteral do Pe. Manuel Pereira dos Santos.
Após a Comunhão e a
benção final, o neo-sacerdote foi cumprimentado pelos familiares, amigos e
pelas comunidades cristãs. Que as palavras de José Allamano, lembradas pelo Pe.
Luiz: “Deus ao dar a alguém a vocação sacerdotal não poderia dar algo maior e
mais sublime. Ao dar essa vocação é o Deus mesmo que escolta com todo o seu
amor aquele que foi chamado e escolhido”, permaneçam sempre na sua vida
missionária
Ao Padre Manuel, felicidade e fidelidade no
seu ministério sacerdotal. Deus o abençoe e a Mãe Consolata o console sempre!
Mario de Carli,
Missionário da
Consolata em Feira de Santana- BA
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