EPÍSTOLAS PAULINAS: AS CARTAS NO NOVO TESTAMENTO


Padre Marcos André Menezes dos Santos

       Escrever cartas era uma atividade comum no mundo antigo, como até bem pouco tempo também o era muito comum entre nós. Eram filhos escrevendo aos pais, soldados saudosos escrevendo às esposas, pessoas comuns perguntando pela saúde dos amigos, prometendo visitas, pedindo favores, de tal modo que quem não lia nem escrevia podia pedir a quem soubesse escrever para que o fizesse. Assim, sendo a forma mais antiga e a mais original da manifestação escrita, a carta é também a mais frequente do cristianismo primitivo.
       Com efeito, o Novo Testamento possui 27 escritos, dos quais 21 são cartas (recordando que os outros escritos são: 4 evangelhos, um Atos e um Apocalipse). Dentre as 21 cartas, mais da metade estão ligadas ao nome de Paulo. Aliás, foi Paulo o iniciador do gênero, ao escrever a primeira carta do NT, a Primeira Carta aos Tessalonicenses, em torno de 50/51 d.C, assim como Marcos foi o iniciador do gênero evangelho, escrevendo-o em torno de 64 a 70 d. C. Desse modo, são 13 ao todo as cartas de Paulo (As outras cartas são: as Católicas ou universais (1 e 2 Pd, Jd, Tg), 1,2 e 3 Jo e a carta aos Hebreus). Dentre essas 13, sete são consideradas autenticamente paulinas (Romanos, 1 e 2 Coríntios, Gálatas, Filipenses, 1 Tessalonicenses, Filêmon) e seis ainda têm a sua autenticidade discutida (Efésios, Colossenses, 2 Tessalonicenses, 1 e 2 Timóteo, Tito), até agora, na pior das hipóteses, sendo atribuídas a alguns dos colaboradores de Paulo, profundos conhecedores seus.
     Na forma como vêm dispostas nas Bíblias, as cartas paulinas vem depois dos Atos dos Apóstolos, em que primeiramente são apresentadas aquelas dirigidas a comunidades (Rm, 1 e 2 Cor, Gl, Fl, Ef, Cl, 1 e 2 Ts) e depois aquelas dirigidas a pessoas (1 e 2 Tm, Tt e Fm). De tal modo que são organizadas de forma decrescente, conforme o tamanho. Quanto à extensão, conteúdo e tom, apresentam diferença entre si, como por exemplo, a curta Carta a Filemon, sucinta, pessoal, diferente da extensa Carta aos Romanos, didática e doutrinária; a 1 Carta aos Coríntios, rica em detalhes concretos diferente da 1 Carta aos Tessalonicenses, pobre em detalhes.
        O termo utilizado pelo próprio apóstolo para definir suas cartas é o de epístola, ἡ ἐπιστολή (He epistolē: Rm 16,22; 1 Cor 5,9). Esse também foi o termo que passou para a vulgata, por exemplo, Epistula Ad Romanos, e se tornou uma espécie de termo técnico teológico, mas na próxima edição veremos que alguns estudiosos procuraram fazer a diferença entre o que seriam cartas e o que seriam epístolas.
     Alguns livros que foram consultados para esse artigo: BROWN, R. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Paulinas, 2012; VIELHAUER, PH. Historia da Literatura Cristã Primitiva. Santo André: Academia Cristã, 2015; BERGER, K. As formas literárias do Novo Testamento. São Paulo: Loyola; GABEL, J. B.; WHEELER, C. B. A Bíblia como Literatura. São Paulo: Loyola, 1993.

Comentários

Postagens mais visitadas