O PROGRAMA MESSIÂNICO DE JESUS NO EVANGELHO DE MARCOS
Em
uma das edições passadas tínhamos visto alguns aspectos acerca do Evangelho de
S. Marcos, continuemos, pois, o nosso estudo.
Diferentemente
de Mateus e Lucas que iniciam o seu evangelho com os relatos da origem e do
nascimento de Jesus (Mt 1,1s; Lc 1,26s), ou de João que o inicia com a narração
de Jesus antes mesmo da sua encarnação, quando ainda era a Palavra que estava
junto de Deus e a Palavra que era Deus (Jo 1,1s), S. Marcos imediatamente já
nos apresenta Jesus no início da sua vida pública, sendo batizado por João, no
rio Jordão (1,9). Com isso, Marcos demonstra que não está preocupado em saber
como Jesus nasceu humanamente (se em Nazaré ou em Belém), ou como tinha sido
concebido ou o que fazia antes do seu batismo, a sua preocupação inicial é
começar a história de Jesus olhando para ele enquanto o Messias, como assinala
os sinais por ele descritos, em formato de imagens apocalípticas, os quais
teriam ocorrido durante o batismo de Jesus: o céu aberto, o espírito em formato
de pomba e a voz vinda dos céus testemunhando em favor de Jesus como o filho
amado (1,9-11). Na concepção de Marcos, antes desses sinais e da palavra de
Deus referindo-se a Jesus dizendo-lhe: “‘Tu és o meu Filho’! Propriamente falando,
ele não existia como Messias. Fora dessa palavra, sua vida carecia de função
salvadora.” (PIKAZA IBARRONDO, Xabier. Evangelio
de Marcos: la buena noticia de Jesús. España: Editorial Verbo Divino, 2012,
p.177).
Assim,
tendo sido dado o pontapé inicial para a progressiva revelação da messianidade
de Jesus, que abarcará os capítulos 1,1-8,26, S. Marcos nos apresentará logo em
seguida o programa messiânico que delineará todo o ministério da vida pública
de Jesus em seu evangelho. Com efeito, assim como S. Mateus tinha colocado o
programa messiânico do ministério de Jesus no Sermão da Montanha (Mt 5-7),
assim como S. Lucas o colocara no sermão inaugural na sinagoga de Nazaré (Lc 4,
16-30) e S. João no relato das bodas de Caná (Jo 2,1-11), S. Marcos o fará no
relato da vocação dos primeiros discípulos e na atuação de Jesus na sinagoga de
Cafarnaum, onde lá ensinou, calou e expulsou um espírito impuro (Mc 1, 16-28)
(MARCUS, Joel. Mark 1-8. New Haven
& London: The Anchor Bible, 2005, p.
190).
Nesse
sentido, delineia-se o programa messiânico de Jesus, em que Marcos será o
evangelho da catequese dos discípulos, os quais sempre estarão com o mestre.
“Pode-se supor sempre que os discípulos estão com ele. A única exceção é quando
envia os doze em missão; e é curioso que Marcos não tenha então nada a contar
sobre Jesus. Quando os discípulos partem em missão, a narração se interrompe e
Marcos preenche o vazio, referindo a opinião de Herodes sobre Jesus e a
execução de João Batista. A narração continua quando os Doze regressam.”
(DELORME, J. Leitura do Evangelho de
Marcos. São Paulo: Paulus & Academia Cristã, 2014, p. 44). Nesse sentido, muitos autores denominam a
Marcos como o evangelho do discipulado.
Com
efeito, também em Marcos a missão inteira de Jesus será marcada pela
instauração do caminho do Reino de Deus “purificando a terra dos espíritos
impuros”, os quais sempre colocarão a questão: “O que tens a ver conosco, Jesus
de Nazaré” (Mc 1,24). Esses serão todos
os que se opuserem à missão de Jesus, quer sejam eles os próprios espíritos
impuros (1,23-28; 5, 1-20), os escribas (1,21-22; 2,1-12; 2,15-17), os fariseus
(2,23-28; 7,1-13), a multidão (6,1-6) e até os familiares de Jesus (3,21;
3,31-34), as enfermidades (1,29-34a; 3, 1-6) ou as tempestades (4,35-42;
6,45-52). Na instauração do caminho do Reino e na execução do seu programa
messiânico, Jesus encontrará algumas resistências e adversários porque sempre
incomodará.
Padre Marcos André Menezes dos Santos
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