ARTIGO DO PADRE MARCOS ANDRÉ
PALAVRA DE VIDA
Como
Palavra vivificante que nos indica que ela própria é vida e morre para que os
homens sejam salvos por ela, no Evangelho de João é, sobretudo, de vida que
Jesus nos fala: “As palavras que vos falei são espírito e vida” (Jo 6,63).
Nas
suas palavras Jesus não nos fala de um conteúdo que esteja fora de nós, que nos
seja abstrato, mas suas palavras atingem a nossa existência. Ao nos falar de
vida, Jesus nos fala dele mesmo, apresenta a sua vida para a nossa. Fala-nos da
sua para a nossa existência.
Nos
seus discursos, quando falava da água da vida, falava dele mesmo, quando falava
do caminho e da verdade falava dele mesmo. Falando do pão da vida, falava dele
mesmo. De tal modo que entre as palavras de Jesus e ele mesmo há uma identificação.
E a sua fórmula de identificação era o famoso “eu sou”.
Por
isso, no Quarto Evangelho, ouvir as palavras de Jesus e aceitá-las significa
aceitar Jesus mesmo, significa fazer da vida de Jesus uma norma de vida. Do
mesmo modo, recusar ouvir suas palavras é a mesma coisa que recusar o próprio
Cristo, não ouvir suas palavras é a mesma coisa que dizer que prefere as trevas
à luz, é o mesmo que dizer que prefere estar no erro a viver na verdade. Não
dar ouvidos às palavras de Jesus é dizer que está consciente da sua cegueira,
mas que prefere continuar nela – na descrença, ao invés da fé – é fazer da vida
uma ilusão. É saber que lhe foi dada uma oportunidade de ser diferente, mas
mesmo assim não se quer mudar, quer continuar sem enxergar, sem ver a luz.
Essa
foi a opção de alguns no evangelho de João, ao recusarem as palavras, recusaram
o próprio Cristo, deixaram de segui-lo. Não quiseram continuar na fidelidade à
palavra ouvida. Não quiseram reconhecer como de fato ela era: Palavra de vida. Muitos
não souberam perceber que diferentemente de quando os profetas falavam, quando um
sucedia ao outro em suas palavras, as palavras de Jesus são eternas. Jesus não
é sucedido por ninguém. Suas palavras não se perdem no tempo, não se gastam;
não se tornam antigas, mas são atemporais, são palavras de vida.
Isso
nos deixa claro que, por meio da sua palavra, Jesus nos chama a uma tomada de
decisão. A Palavra de Deus que é mais penetrante do que uma espada de dois
gumes, que penetra até dividir alma e espírito, juntas e medulas e que julga as
disposições e intenções do coração. Tudo está descoberto aos seus olhos (cf. Hb
4,12-13).
Em
cada encontro com a palavra de Cristo somos perguntados a todo o momento a quem
queremos seguir. Como queremos permanecer, em que tipo de vida nós queremos
estar, a qual existência nós queremos aderir. Por isso, a nossa opção por
Cristo deve ser todos dias. Devemos ser fiéis a ele todos os dias.
Reconhecer
que Suas palavras suavizam, dão leveza. Jesus que nos falou do que viu e ouviu
do Pai e acerca de quem nós podemos dizer: “homem algum falou assim” (cf. Jo
7.46), pois Ele tem palavras de vida eterna (Jo 6,67).
PADRE MARCOS ANDRÉ MENEZES DOS SANTOS
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