JOÃO BATISTA SOB A PERSPECTIVA DO QUARTO EVANGELHO

Neste mês de junho, tendo em vista a celebração de São João Batista, gostaríamos de olhar para este grande homem a partir da perspectiva do evangelista João. Para evitar ambiguidade entre João Batista e o evangelista, referir-nos-emos ao Evangelho de João como Quarto Evangelho. E como nós só conseguimos perceber os traços característicos de alguma coisa quando relacionamos com outra, precisaremos confrontar aquilo que os Evangelhos sinóticos de Mateus, Marcos e Lucas falam acerca de João Batista com as características apresentadas pelo Quarto Evangelho.
Nos sinóticos, João Batista é, sobretudo, o “precursor”, o pregador inflamado, para quem “o machado já está posto à raiz das árvores e toda árvore que não produzir bom fruto será cortada e lançada ao fogo” (cf. Mt 3,10); ele é aquele que acusa os príncipes (cf. Mc 6,18) e que morre mártir (cf. Mc 6,28). Os sinóticos falam ainda sobre as roupas de couro de camelo usadas por João Batista, e sobre o alimento que o sustentava: “alimentava-se de gafanhotos e mel silvestre” (cf. Mc 1,6). Já, no Quarto Evangelho, muitas dessas características desaparecem, de tal modo que João Batista não é apresentado como esse pregador do arrependimento, nada do precursor ameaçador, nada do batizador que atraía multidões; ele não é apresentado como o Messias, como Elias ou como o profeta (cf. Jo 1,20-21) – ele próprio nega isso –, nem há referência a suas roupas ou dietas.
Então, quem é João Batista no Quarto Evangelho? É, sobretudo, como a testemunha em favor de Jesus que João Batista aparece: “Houve um homem enviado por Deus, e o seu nome era João. Ele veio para dar testemunho da luz” (cf. Jo 1,6-7). Ele é a testemunha (cf. Jo 1,19; 3,32.34). Assim como foram testemunhas de Jesus a Escritura (cf. Jo 5,39), as obras de Jesus (cf. Jo 5,36; 10,25), o discípulo (cf. Jo 19,35), o Espírito (cf. Jo 15,26s) e o Pai (cf. Jo 5,37; 8,18), dentre os homens, João é a testemunha por excelência: “o homem enviado por Deus”. No Quarto Evangelho são enviados por Deus, somente, Jesus (cf. Jo 3,16-17) e o Espírito (cf. Jo 14,26), e dentre os homens, o Batista.
Como testemunha, João Batista não está ali para falar de si, sua missão é chamar a atenção para o Cristo; como testemunha, ele batiza com água e afirma: “o que vem depois de mim passou adiante de mim, porque existia antes de mim” (cf. Jo 3,15.30). Falando acerca de si mesmo, ele se define apenas como a voz, a voz que se esconde atrás da profecia de Is 40,3 – “endireitai o caminho do Senhor” (cf. Jo 1,22) –, e se identifica com ela. É a voz, enquanto Jesus é a Palavra; é a voz que torna presente esta Palavra. Como testemunha, ele não é o esposo, mas é o amigo do esposo, cuja esposa é o povo, Israel (cf. Jo 3,29). Como testemunha, João não busca sua glória, ele se apaga para destacar a presença de Cristo: “é necessário que ele cresça e eu diminua” (cf. Jo 3,30). Com seu testemunho, João quer, sobretudo, conduzir todos a aproximarem-se de Jesus.
Inspirados em S. João Batista, neste mês dedicado a ele, sejamos também nós homens e mulheres do testemunho, homens e mulheres que fazem com que Cristo apareça!
(PADRE MARCOS ANDRÉ)

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