VOCAÇÃO: TRANSBORDAR DE AMOR
Joelder Pinheiro Correia de Oliveira*
A Igreja no Brasil dedica o mês de agosto às
vocações; tempo propício para fomentar e intensificar as orações, impetrando que
as mesmas floresçam vicejantes e propendam de bons frutos. Com o presente
artigo intentamos esboçar sobre a beleza e as exigências da vivência
vocacional.
Somente ao homem, como ser inteligente,
pode-se atribuir a característica de ser vocacional, somente ele é capaz de
decodificar o chamado de Deus e, mais ainda, de responder-Lhe. Mas esta
resposta não pode ser apenas uma vociferação estéril ou um sentimentalismo
desenraizado, como se nada implicasse na vida de quem responde. A vocação exige
muito! Basta pensar em Abraão: “Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de
teu pai, para a terra que te mostrarei” (Gn 12,1), e ele parte tendo como
garantia somente a interpelação do Senhor, e isso basta.
Nenhuma vocação nasce do acaso, nem do
devaneio de uma auto-projeção – se assim fosse seria falsa –, a vocação nasce
do encontro dialogal entre corações, num transbordamento de amor e doação
desinteressada. Só há vocação verdadeira na liberdade de um coração totalmente
desapegado de si mesmo. Uma pessoa que se cerra, ensimesma-se, como centro de
si mesma, numa apatia em relação a outrem, jamais entenderá a dinâmica do amor
que é empático, abnegado, serviçal, logo, não será capaz de viver veementemente
sua vocação.
Não é uma atitude fácil ou simples
para o homem, que em suas limitações tenta perscrutar os mistérios de Deus para
sua vida, por isso a resposta nem sempre se apresenta com tanta clareza, mas é
um passo de fé, às apalpadelas como que caminhando em plena noite. Entretanto,
não se trata de um ato irracional ou inconsequente. A presença de dúvidas,
questionamentos, incertezas, medos, é comum e aos poucos vai se diluindo. A
resposta que damos a Deus se clarifica à medida que vamos vivenciando-a, que
entramos na dinâmica da vocação.
Nos quatro domingos de agosto a
Igreja no Brasil reza pelas vocações: sacerdotal, familiar, religiosa e laical.
Cada vocação é bastante específica, mas todas têm algo em comum: são um
serviço, por causa de Deus, para os homens. É por meio delas que palmilhamos
rumo à salvação! Poderíamos dizer: cada vocação é o caminho por meio do qual
chegaremos ao céu.
Não basta ser sacerdote, tem que ser fiel,
ter um coração ardente de zelo pelo Senhor e pelo seu rebanho. Como seria
triste ouvir do Senhor: “Ai dos pastores de Israel, que apascentam a si mesmos!
[...] Assim fala o Senhor: Eis-me contra os pastores. Das suas mãos requererei
prestação de contas a respeito do rebanho” (Ez 34,2.10). A mediocridade no
exercício das funções ministeriais e encargos é, em todos os tempos, o maior
mal para a vida de um sacerdote. O mesmo diga-se em relação aos (as) religiosos
(as), que abraçaram um carisma específico. A fidelidade ao carisma é
indispensável para a reta vivência de sua consagração.
Não basta dizer-se pai ou mãe só porque
consta no registro civil de nascimento. A vida familiar precisa ser vivida com
responsabilidade. Os lares devem ser lugares do encontro, da partilha, do
perdão, do amor, da doação, da compreensão, da correção, da educação e,
sobretudo, da vivência da fé. Uma sociedade doente só pode ser sinal de que as
famílias estão esfaceladas. E aqui podemos tratar da missão dos leigos, que não
são “sujeitos passivos” como se pensou. Grande é a sua responsabilidade de ser
sal da terra e luz do mundo (Mt 5,13-16), de exalar o suave odor de Cristo e de
refletir a sua beleza, vivenciando o seu batismo ante um mundo cada vez mais
descrente e sem perspectivas.
Por fim, cada vocação é um grande
dom de Deus, não só para a pessoa, mas para toda a comunidade, que é o lugar
onde ela encontra seu sentido e floresce. Na diversidade das vocações se
sobressai a beleza da fidelidade a cada uma delas. Quanto mais se entra na
dinâmica do amor a Deus, que nos chamou, tanto mais transbordaremos em
fidelidade, serviço e felicidade na vivência de nossa vocação.
*Seminarista do 2º ano de teologia
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