Continuação do resumo da Carta Pastoral de D. Dulcênio Fontes de Matos sobre a Eucaristia
CAPÍTULO I
O DESENVOLVER DE UMA VIVÊNCIA EUCARÍSTICA
NA IGREJA
Os sinais prefigurativos no Antigo Testamento

Logicamente,
esta prefiguração da Divina Eucaristia é localizada no Antigo Testamento. Aí, o
emprego do pão e do vinho não só era feito por conta de estas duas matérias
fazerem parte do cardápio da dieta mediterrânea, mas para expressar aspectos e
momentos da aliança de Deus com o seu povo.
No livro do
Gênesis, vemos como uma primeira figura a passagem em que Melquisedec, rei de
Salém e sacerdote do Deus vivo, oferece como sacrifício ao Altíssimo as
matérias do pão e do vinho. Neste personagem, desde tempos mais remotos, a
Igreja viu um prenúncio dos verdadeiros Sacerdote e Sacrifício: Jesus, Sumo e
Eterno Sacerdote que na estela da cruz, se sacrifica em uma oblação de suave
odor. Para nos auxiliar nesta reflexão, a Carta aos Hebreus, nos capítulos
quinto, sexto e sétimo, faz um paralelo entre Cristo e o misterioso “rei de
Salém e Sacerdote do Deus Altíssimo” (cf. Gn 14, 18). Ele ofereceu pão e vinho,
tal como Jesus na Última Ceia.
Outra preconização a temos na véspera da Páscoa
judaica. Ainda no Egito, oprimidos como escravos, os hebreus, impulsionados
pelo próprio Deus que lhes falava através de Moisés, ritualizaram em refeição
aquilo que iriam experimentar no dia seguinte: a páscoa, passagem. Mas passagem
de que? Da condição de sujeitos escravos a de senhor, para um momento histórico
insuperavelmente melhor: a de libertos pelo próprio Senhor, Deus de seus pais.
Este mesmo Senhor iria conduzi-los rumo à terra que emana “leite e mel” (cf. Ex
3, 8). Esta ceia comemorativa deveria ser celebrada não somente naquela data,
mas rememorativamente todos os anos: “Conservareis a memória daquele dia,
celebrando-o com uma festa em honra do Senhor: fareis isso de geração em
geração, pois é uma instituição perpétua. Comereis pão sem fermento durante
sete dias. Logo ao primeiro dia tirareis de vossas casas o fermento, pois todo
o que comer pão fermentado, desde o primeiro dia até o sétimo, será cortado de
Israel” (Ex 12, 14-15). Interessante as palavras: “fareis isso de geração em
geração, pois é uma instituição perpétua”, já que, até hoje, o povo judeu, pela
data da páscoa, cumpre este preceito mosaico. Entretanto, nós cristãos
preceituamos a ceia pascal como memorial da Aliança instituída pelo Senhor para
nós: em todos os dias de sua história bimilenar, a Igreja de Cristo realiza o
banquete pascal, principalmente no dia primeiro e oitavo das nossas calendas: o
Domingo, Dia do Senhor. Neste dia e com a refeição eucarística nós não apenas
rememoramos, mas atualizamos também uma páscoa, uma passagem: o nosso Cordeiro,
Jesus Cristo, vence a morte, ressuscita e nós com Ele. Na Páscoa Eucarística
recebemos o Pão Cristo, o alimento mais puro que nunca antes fora visto. De
maneira real, não simbólica como os pães ázimos dos judeus, nosso Pão Jesus não
é conspurcado pelo fermento do mundo porque ele é plenamente imaculado, já que
desceu do céu para, alimentando-nos, salvar.
Continua...
Parabéns pela Carta, pois ela nos ajuda a compreender melhor o Mistério da Eucarístia, para que celebrando-a na história possamos viver.
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