Continuação do resumo da Carta Pastoral de D. Dulcênio Fontes de Matos sobre a Eucaristia


CAPÍTULO I
O DESENVOLVER DE UMA VIVÊNCIA EUCARÍSTICA NA IGREJA


Os sinais prefigurativos no Antigo Testamento

 Em sua última Carta Encíclica, “Ecclesia de Eucharistia”, O Bem-Aventurado João Paulo II afirmou categoricamente: “A Igreja vive da Eucaristia. Esta verdade não exprime apenas uma experiência diária de fé, mas contém em síntese o próprio núcleo do mistério da Igreja” (n. 1). Porém, antes de Jesus instituir a dádiva eucarística como sublime alimento da Igreja nascente, podemos visualizar sinais prefigurativos ao longo da História da Salvação, ilustrando, como que pedagogicamente, a realidade sacramental. Desta forma, paulatinamente, Deus preparava, ainda que de forma velada, o coração do Antigo Israel para recepcionar “o Verbo que se fez carne e habitou no meio de nós” (cf. Jo, 1, 14).
Logicamente, esta prefiguração da Divina Eucaristia é localizada no Antigo Testamento. Aí, o emprego do pão e do vinho não só era feito por conta de estas duas matérias fazerem parte do cardápio da dieta mediterrânea, mas para expressar aspectos e momentos da aliança de Deus com o seu povo.
No livro do Gênesis, vemos como uma primeira figura a passagem em que Melquisedec, rei de Salém e sacerdote do Deus vivo, oferece como sacrifício ao Altíssimo as matérias do pão e do vinho. Neste personagem, desde tempos mais remotos, a Igreja viu um prenúncio dos verdadeiros Sacerdote e Sacrifício: Jesus, Sumo e Eterno Sacerdote que na estela da cruz, se sacrifica em uma oblação de suave odor. Para nos auxiliar nesta reflexão, a Carta aos Hebreus, nos capítulos quinto, sexto e sétimo, faz um paralelo entre Cristo e o misterioso “rei de Salém e Sacerdote do Deus Altíssimo” (cf. Gn 14, 18). Ele ofereceu pão e vinho, tal como Jesus na Última Ceia.

Outra preconização a temos na véspera da Páscoa judaica. Ainda no Egito, oprimidos como escravos, os hebreus, impulsionados pelo próprio Deus que lhes falava através de Moisés, ritualizaram em refeição aquilo que iriam experimentar no dia seguinte: a páscoa, passagem. Mas passagem de que? Da condição de sujeitos escravos a de senhor, para um momento histórico insuperavelmente melhor: a de libertos pelo próprio Senhor, Deus de seus pais. Este mesmo Senhor iria conduzi-los rumo à terra que emana “leite e mel” (cf. Ex 3, 8). Esta ceia comemorativa deveria ser celebrada não somente naquela data, mas rememorativamente todos os anos: “Conservareis a memória daquele dia, celebrando-o com uma festa em honra do Senhor: fareis isso de geração em geração, pois é uma instituição perpétua. Comereis pão sem fermento durante sete dias. Logo ao primeiro dia tirareis de vossas casas o fermento, pois todo o que comer pão fermentado, desde o primeiro dia até o sétimo, será cortado de Israel” (Ex 12, 14-15). Interessante as palavras: “fareis isso de geração em geração, pois é uma instituição perpétua”, já que, até hoje, o povo judeu, pela data da páscoa, cumpre este preceito mosaico. Entretanto, nós cristãos preceituamos a ceia pascal como memorial da Aliança instituída pelo Senhor para nós: em todos os dias de sua história bimilenar, a Igreja de Cristo realiza o banquete pascal, principalmente no dia primeiro e oitavo das nossas calendas: o Domingo, Dia do Senhor. Neste dia e com a refeição eucarística nós não apenas rememoramos, mas atualizamos também uma páscoa, uma passagem: o nosso Cordeiro, Jesus Cristo, vence a morte, ressuscita e nós com Ele. Na Páscoa Eucarística recebemos o Pão Cristo, o alimento mais puro que nunca antes fora visto. De maneira real, não simbólica como os pães ázimos dos judeus, nosso Pão Jesus não é conspurcado pelo fermento do mundo porque ele é plenamente imaculado, já que desceu do céu para, alimentando-nos, salvar.


Continua...

Comentários

  1. Parabéns pela Carta, pois ela nos ajuda a compreender melhor o Mistério da Eucarístia, para que celebrando-a na história possamos viver.

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