QUE FRUTOS COLHEREMOS DA JMJ 2013?



Dom Dulcênio Fontes de Matos
Bispo Diocesano de Palmeira dos Índios



Há pouco, sentimos o vibrar jovial e cheio de esperança daqueles que se fizeram presentes no Rio de Janeiro, juntamente com o Papa Francisco, na Jornada Mundial da Juventude. Ao tempo em que contemplávamos aquela multidão alegre de jovens provenientes de tantas partes do mundo, muitos, inclusive eu, questionávamos: “Quais serão  os frutos que o mundo colherá desta Jornada Mundial da Juventude?”. Enquanto tal indagação me furtava o pensamento, uma palavra do Evangelho a acompanhava: “Disse Jesus ‘Segui-me e eu farei de vós pescadores de homens’. E eles, deixando imediatamente as redes seguiram a Jesus” (Mc 1,17-18).

Creio que não exista nome mais propício para a missa de encerramento de uma Jornada da Juventude, cognominada “Missa de Envio”. Com esta celebração, o macro encontro de jovens, de pessoas à ‘flor da idade’, com imensa energia para viver e transformar o mundo com os seus ideais, pode ser encerrado, mas nunca se pode dar um termo ao protagonismo daqueles que foram invitados pelo Senhor para este ‘kairós’ que foi a JMJ-Rio. Os jovens deveriam ter sentido pulular em seu interior a inquietação: “O que viestes fazer aqui, nesta cidade, jovens, senão seguir Aquele que vos chama: ‘Segui-me’?”. Sendo, portanto, cônscios de que este grande chamado de Jesus no Evangelho não se dirige mais a Simão, André, Tiago e João – eles já responderam ao chamado do Senhor. 

O grande convite de Jesus é dirigido a todos os jovens, operários da undécima hora. É o Senhor que chama e, atenciosamente, os jovens respondem-Lhe. Porém não basta apenas dar-lhe atenção nesta hora, mas, a partir deste momento, sempre recordar do primeiro chamado do Senhor que é dirigido a cada pessoa: a vocação à vida e, com esta, a vocação à santidade. É uma espécie de chamado primário que Jesus faz, pois todos somos comprometidos com o Senhor desde o dia do Batismo ao professarmos a fé da Igreja de Cristo. E esta convicção, iniciada na pia batismal, é reforçada por ocasião do Ano da Fé, no qual estamos imbuídos. O apelo intransferível do Senhor deve ser abraçado com fervor por todos, mas, graças a JMJ, principalmente pelos jovens.

Por ocasião do Dia Mundial da Paz do ano de 2012, o Papa Bento XVI tecia acerca da importância das aspirações e inquietações da juventude para a construção de um mundo melhor, mais justo e pacífico. Em outras palavras, o Santo Padre afirmava que “a juventude é a esperança do amanhã”. É isto mesmo. Nós, que também somos jovens, embora amadurecidos pela vida, mas jovens em espírito, olhamos para todos eles com uma benéfica expectativa de que o amanhã, que já está sendo construído hoje, será vivenciado com paz e justiça. Neste sentido, bem dissera o nosso querido Papa Francisco no último Domingo de Ramos, comemoração da XXVIII Jornada da Juventude da Diocese de Roma: “Vós tendes um parte importante na festa da fé! Vós trazeis-nos a alegria da fé e dizeis-nos que devemos viver a fé com um coração jovem, sempre: um coração jovem, mesmo aos setenta, oitenta anos! Coração jovem! Com Cristo, o coração nunca envelhece. […] Os jovens devem dizer ao mundo: é bom seguir Jesus; é bom andar com Jesus; é boa a mensagem de Jesus; é bom sair de nós mesmos para levar Jesus às periferias do mundo e da existência”.
Embora experimentem e sintam os efeitos da desordem de um mundo violento, luxurioso, corrupto, que não raras vezes preza pelo mal em detrimento do bem, os jovens têm a nobre missão de mudar a realidade. Mas como o farão? Pelo testemunho cristão: este é o caminho! O mundo tem jeito. Tem sim! E a correção virá pelos jovens cristãos! O problema do mundo habita justamente na falta de testemunho de inúmeros cristãos que cruzam os braços e não professam a sua fé, não somente com palavras, mas com uma vida profundamente enraizada nas virtudes cristãs. A prática do cristianismo não deve ser eventual, mas uma constante que contagie aos desanimados, aos indiferentes, inclusive muitos jovens atolados nos vícios e escravos do mal.
A prática do ser cristão é um incômodo para o mundo. Vemos tantos cristãos perseguidos, inclusive em suas famílias, sendo chacoteados, negligenciados e, em muitos países, mortos. A perseguição ao cristianismo não é um horror longínquo, mas sorrateiramente acontece em nosso meio. Muitos dos jovens que amam a Jesus são tidos pela mentalidade profana como incapazes, alienados, fanáticos dentre tantas outras depreciações. Faz-se preciso que sejam igualmente conscientes daquilo que dissera o Senhor em uma espécie de simultâneos advertência e consolo: “Bem-aventurados sereis quando vos caluniarem, quando vos perseguirem e disserem falsamente todo o mal contra vós por causa de mim. Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus, pois assim perseguiram os profetas que vieram antes de vós” (Mt 5,11-12).
Se os jovens são testemunhas do Cristo, que é também jovem, serão, por isto mesmo, pescadores de homens. Quando da JMJ-2011 em Madri, o Papa Bento XVI foi interrogado acerca dos frutos gerados naquele evento magnânimo. O Romano Pontífice Emérito respondeu com brilhantismo e profundidade: “A sementeira de Deus é sempre silenciosa, não aparece nas estatísticas. E com a semente que o Senhor lança na terra durante as JMJs, acontece como com a semente da qual Ele fala no Evangelho: algumas caem ao longo da estrada e perdem-se; outras caem sobre os pedregulhos e perdem-se; algumas caem entre os espinhos e perdem-se; mas algumas caem em terra boa e produzem muito fruto. Exatamente assim acontece com a JMJ: muito se perde – e isto é humano. Com outras palavras do Senhor: o grão de mostarda é pequeno, mas cresce e torna-se uma árvore frondosa. E ainda, certamente, muito se perde, não podemos dizer imediatamente: a partir de amanhã recomeça um grande crescimento da Igreja. Deus não age assim. Mas cresce em silêncio e muito. Sei que das outras JMJs nasceram muitas amizades, e para toda a vida; muitas experiências novas de que Deus existe. E sobre este crescimento e silencioso nós depositamos a confiança e estamos certos, embora as estatísticas não se pronunciem muito, de que a semente do Senhor realmente cresce e, para muitas pessoas será o início de uma amizade com Deus e os outros, de uma universalidade do pensamento, de uma responsabilidade comum que deveras nos mostra que estes dias darão frutos”.
Caros jovens, o chamado do Cristo é urgente e, por isso, impreterível. Vidas estão em jogo, à mercê de tantos perigos que, em massa, visam obscurecer o valor da vida, tentam olvidar o Evangelho de Jesus. E, se sois pescadores de homens, obviamente sois profetas. E qual é a figura do profeta senão aquele que é instrumento de Deus na comunicação do seu povo? O profeta é o ‘porta-voz de Deus’. Que o grito silencioso e eficiente da fé proclamada em vossas vidas de que ‘Jesus Cristo é o Senhor’ possa ser o grande o fruto desta Jornada. Que possais sempre resgatar-vos e, a partir de vós, resgatar a tantos para o agradável convívio do Senhor, tal como o refrão do hino desta JMJ vos propunha: “Cristo nos convida: ‘Venham, meus amigos!’ Cristo nos envia: ‘Sejam missionários!’”


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