POVO INDÍGENA XUKURU-KARIRI DE PALMEIRA DOS ÍNDIOS REALIZA SUA VI ASSEMBLEIA


                Entre os dias 9 a 10 de setembro aconteceu a VI Assembleia do Povo Indígena Xukuru-Kariri com o tema: A Memória Garante a Existência do Povo na Luta Pela Garantia da Terra Prometida e o Bem Viver. A mesma se realizou na Aldeia Fazenda Canto, município de Palmeira dos Índios – AL. Na abertura vivenciamos a fé e espiritualidade com a romaria saindo da entrada da Aldeia Fazenda Canto para a Escola Estadual Pajé Miguel Selestino, momento este marcado pela chegada da imagem de Nossa Senhora Aparecida e do Cruzeiro trazidos pelos parentes da Aldeia Mata da Cafurna, o povo seguiu em procissão percorrendo parte da Aldeia até o local da atividade.
            Como parte da programação do primeiro dia, o Padre Francisco do Conselho Indigenista Missionário fez uma fala em torno da Caminhada do Povo de Deus e a luta pela Terra prometida à luz da Palavra de Deus contida nas escrituras sagradas,  relacionando com os dias atuais e a luta pela garantia dos territórios tradicionais com enfoque para a luta Xukuru-Kariri. Ainda no primeiro dia aconteceu a inauguração do novo prédio reformado e ampliado da Escola Pajé Miguel Celestino, conquista da luta dos Xukuru-Kariri no último período. A alegria da comunidade por saber que conta com a proteção divina na luta por seu território e a conquista da escola que fortalecerá a educação escolar indígena coroou o finalzinho de tarde ao balançar das maracas no canto e na pisada do toré.
            A assembleia é um momento místico de reencontro dos parentes, vivência coletiva, avaliação e planejamento das ações do povo na luta por dignidade, respeito, cultura, garantia dos valores ancestrais passados de geração em geração e reafirmação da luta pela demarcação do Território Tradicional Xukuru-Kariri. Para entender este processo, na manhã do segundo dia, aconteceu uma análise de conjuntura indigenista e política do país e do estado de Alagoas. Esta reflexão revela um retrato histórico de contradições onde o poder econômico e capitalista do agronegócio determina a questão agrária e territorial no Brasil, preocupante mais ainda pelo fato de no estado de Alagoas forças retrógradas, preconceituosas, conservadoras e reacionárias se renovaram se elegendo para exercer cargos políticos no cenário estadual e nacional. São nomes tradicionais do coronelismo latifundiário que querem se manter no poder, enriquecendo às custa da força de trabalho dos povos indígenas e de toda a classe trabalhadora do campo e da cidade. Este é um cenário desanimador, ficando claro que se o estado brasileiro por meio dos seus órgãos competentes, no caso dos indígenas a Fundação Nacional do Índio (FUNAI) e o Ministério da Justiça (MJ), deixarem de fazer as demarcações das terras indígenas, a tendência é que os conflitos aumentem, pois as populações indígenas que vivem em comunidades ou nas periferias das cidades crescem, assim como a necessidade de espaço para produção de alimentos, reprodução da vida, manutenção da cultura e preservação ambiental. Ainda no primeiro dia aconteceu um trabalho de grupo onde os idosos, adultos, juventude, organizações parceiras e aliadas e a Aldeia Mãe Jorvina Xukuru-Kariri do município de Taquarana discutiram propostas de ações comuns para os próximos anos: dar continuidade ao levantamento fundiário, homologação e ‘desintrusão’ da terra do Território Tradicional Indígena Xukuru-Kariri; continuar nos reunindo e nos organizando com as lideranças de todas as comunidades de Xukuru-Kariri, em torno da luta pela Saúde, Educação, Demarcação da Terra, etc., fortalecendo a nossa união; intensificar a produção de alimentos saudáveis, livres de agrotóxicos; orientar a juventude a valorizar mais a espiritualidade do povo; fortalecer aliança com os demais povos e populações tradicionais e fortalecer a nossa aliança com nossos amigos e aliados.


            Durante esses dias tiveram a presença de parentes dos Povos Jeripankó e Wassu Kokal - AL, Xukuru de Ororubá e Kambiwá - PE, bem como, apoiadores da causa como os professores universitários da UFAL, CESMAC, FACESTA e representantes dos aliados: Conselho Indigenista Missionário - CIMI, Comissão de Professores Indígenas de Pernambuco - COPIPE, Rede de Educação Cidadã - RECID, Movimento das Comunidades Populares - MCP, União da Juventude Popular - UJP, Jornal Voz das Comunidades - JVC, Movimento dos Pequenos Agricultores - MPA, Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - MST, Cáritas Diocesana de Palmeira dos Índios, Articulação do Semiárido - ASA, Associação de Agricultores Alternativos - AGRAA, Comissão Pastoral da Terra - CPT, Coletivo Macambira, Pastoral da Juventude do Meio Popular - PJMP e Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadores do Campo - MTC.

            A assembleia foi encerrada com a aprovação do documento final, seguida da celebração Eucarística em ação de graças a Nossa Senhora Aparecida, Padroeira Xukuru-Kariri e em memoria dos Guerreiros que tombaram na luta: Maninha e Gecivaldo Xukuru-Kariri, Padre Dámaso e de outros Guerreiros. A celebração foi conduzida pelo Padre Antônio, vigário paroquial da Catedral Diocesana Nossa Senhora do Amparo de Palmeira dos Índios, Pajés e lideranças religiosas dos Xukuru-Kariri. Padre Antônio, em sua homilia, lembrou a caminhada do povo Deus no Antigo testamento e da sua promessa aos nossos pais Abraão, Moisés, Isaque e Jacó, e que Deus está do lado do povo que ainda hoje luta pela terra prometida fazendo referência também ao padre Dámaso, grande responsável pelo reconhecimento dos Xukuru-Kariri e do Povo Fulniô de Águas Belas em Pernambuco.

Por José Hélio Pereira da Silva
Educador Popular da Rede de Educação Cidadã – Recid/AL, Voluntário da Cáritas Diocesana de Palmeira dos Índios, Graduando em Geografia pela Universidade Federal de Alagoas – UFAL




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