O EVANGELHO DE JESUS CRISTO SEGUNDO MARCOS


Neste ano de 2015, na liturgia da Igreja, enquanto durante os dias de semana estaremos fazendo as leituras do ano ímpar, aos domingos faremos as leituras do chamado ano B, onde leremos trechos do evangelho de São Marcos.
Do mesmo modo como para que conheçamos uma pessoa precisamos antes ser apresentados a ela, assim também antes do nosso primeiro contanto com Marcos, consideramos que seria conveniente fazermos uma apresentação desse evangelho, que nos acompanhará durante todo este ano de 2015, sendo nosso guia, nosso conselheiro, nosso mestre espiritual, aquele que nos traçará as coordenadas para que em 2015 tornemo-nos melhores discípulos de Cristo. É o que procuraremos fazer aqui mensalmente, ao longo deste ano. Então, comecemos pelo começo.
Considera-se que Marcos escreveu o seu evangelho entre os anos 64 e 70 d.C., sendo o primeiro evangelho a ser escrito. Tinha como destinatários alguns cristãos provenientes, sobretudo, do paganismo, das terras da Palestina. Um dos objetivos primeiros pelo qual Marcos escreve o seu evangelho era de tal forma apresentar a pessoa de Jesus, a fim de que tantas pessoas se tornassem discípulos (as) seus. Por essa razão, Marcos inicia o seu evangelho assim: “Princípio do evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus” (Mc 1,1). Portanto, o foco da sua obra é a boa nova (euangélion) de Jesus Cristo, o Filho de Deus. Para Marcos, o evangelho é Jesus[1]: o evangelho de Deus (1,14) que anuncia que os tempos passados se cumpriram; o evangelho no qual é necessário crer (1,15); o evangelho que é promessa para o futuro (13,10; 14,9), mas que já deve ser uma realidade do presente (8,35; 10,29)[2]. Este evangelho de Jesus é apresentado como o princípio (arché), talvez numa alusão ao no princípio, de Gn 1,1, na obra da criação, talvez também para dizer que com a boa nova que é Jesus todas as coisas principiam nele, a partir dele. Também a vida dos seus destinatários deve ter princípio nele.
Quanto à sua estrutura, considera-se que o evangelho de Marcos está dividido em duas partes[3]. Os capítulos 1,1-8,26 trazem como tema principal a progressiva revelação da messianidade de Jesus. Por sua vez, os capítulos 8,27-16,8 compõem a segunda parte que será toda orientada para a cruz com o tema do messianismo sofredor. Depois das alusões esporádicas que tinham sido feitas acerca do significado da pessoa de Jesus, como em Mc 6, 2-3.14-16, a partir de 8,27s, com a resposta de Pedro, se “chegará a saber quem ele é: o Messias.”[4]
O evangelho de Marcos também põe em destaque alguns lugares geográficos, Jesus é encontrado na maioria das vezes atuando na região da Galileia. “É proveniente de lá (1,9), lá inicia a sua pregação (1,14.39), lá é que se formam os primeiros discípulos (1,16) e seguidores (1,28; 3,7) lá é que anuncia sua paixão (9,30) e promete seu retorno (14,28). Lá também é o ponto de partida para a evangelização dos gentios (7,24)” [5]. Mas também a partir do capítulo 10,1 em diante “Marcos se refere claramente à subida de Jesus para Jerusalém e à sua permanência lá (10,32;11.1).”[6] Nesse sentido, tanto a Galileia quanto Jerusalém, esses lugares tipicamente geográficos, tornam-se também lugares teológicos. A Galileia, sendo o lugar no qual Jesus iniciou o seu ministério, torna-se o ponto de partida da atuação dos discípulos. Faz bem voltar ao lugar onde tudo começou. Jerusalém, por sua vez, aparecerá como o lugar no qual Jesus morre, o lugar da oposição a Jesus. Nesse sentido, a Galileia e Jerusalém em Marcos trazem a concepção teológica da salvação que escapa das mãos dos judeus incrédulos para ser acolhida pelos pagãos que creem[7].
Nesta edição, limitamo-nos a esses aspectos acerca do evangelho de Marcos, na edição seguinte esperamos desenvolver algo mais a partir dos textos litúrgicos.
Padre Marcos André Menezes dos Santos



[1] Cf. SLOYAN, G. S. Evangelho de Marcos. São Paulo: Paulinas, 1975. p. 6.
[2] Cf. CALLE, F. de la. A Teologia de Marcos. São Paulo: Paulinas, 1984. p.40.
[3] SERENTHÀ, M. Jesus Cristo, ontem, hoje e sempre. São Paulo: Salesiana Dom Bosco, 1986. p. 123.
[4] CALLE, F. de La. p. 37.
[5] KÜMMEL, W. G. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Paulinas, 1982. p. 104.
[6] Idem. p. 101.
[7] Idem. p. 104.

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