FAMÍLIAS CRISTÃS GERAM VOCAÇÕES PARA A IGREJA

  

            Fala-se muito sobre crise vocacional na Igreja: isto é um fato. No meu entender, a causa da crise para o sacerdócio, para a vida consagrada e matrimonial é mais ampla do que se imagina, porque atinge, seriamente, a noção de vivência cristã. Não tenho dúvidas de que em todas as comunidades e em nossas dioceses, há certamente sementes vocacionais, faltando o ambiente propício para que elas floresçam. 
       A crise da vida cristã reflete-se, imensamente, na família que, por carência ou isenção de formação de consciências a partir do sacramento matrimonial e de tudo que dele dimana, não é muito estruturada. Neste sentido, vemos o crescente colapso e desdém daquilo que, outrora, era natural, ou seja, a visão de família cristã, quando o ambiente em que cresce a criança, o adolescente e o jovem, enfim, o indivíduo, não reflete o compromisso primariamente cristão, e disto, por seguinte, não se pode esperar do futuro das novas gerações uma resposta ao chamado de Deus. Confesso que tal realidade me preocupa como pastor. Se não dermos uma atenção devida, uma melhor base às famílias, se não apostarmos seriamente na formação dos casais, dando-lhes o apoio necessário à vida familiar, se não formarmos bem os jovens, mostrando-lhes o caminho da fé em Deus, não chegaremos a lugar algum e os valores humanos e cristãos jamais penetrarão no coração das pessoas. Muito pelo contrário, a desordem, o senso do trivial e do descartável, de uma irresponsabilidade existencial e do permissivismo adentrará feroz e destrutivamente para minar a base da sociedade e o nascedouro das vocações: a família.
            A crise de vocação sacerdotal e vida consagrada é naturalmente o que reflete a crise ética, social e moral da própria comunidade cristã. Cito um exemplo: Pais e familiares que são batizados, portanto cristãos, ficam admirados quando um membro da família pensa em ser padre, freira, frade ou até mesmo em querer casar seriamente na Igreja. Este é um sinal de que algo vai muito mal na vivência pessoal da fé cristã católica. E do pessoal ao familiar, ao comunitário, ao social... Sentimos a “falta de valores”. Sem eles, como acima aferi, a família é afligida por primeiro. Sem famílias sadias, fortes na fé e nos valores humanos e cristãos, esta crise, que se expande nas diversas vocações, não será vencida. Tenho certeza: se trabalharmos melhor a Pastoral da Família, a tensão será vencida e as sementes vocacionais nascerão e se desenvolverão. O Papa Bento XVI citou certa vez que o Papa João Paulo II dizia “estar convicto de que as vocações crescem e amadurecem nas igrejas particulares, facilitadas por contextos familiares saudáveis e robustecidas pelo espírito da fé, de caridade e de piedade.” Daí, eu crer que onde as comunidades paroquiais investem na família, incluindo os casais e filhos, acabam por “despertar” a sociedade que dorme e entorpece a própria comunidade cristã. Isto cabe à diocese e, propriamente, às paróquias. Que os sacerdotes possam promover, com urgência, a Pastoral Familiar, despertando as famílias para a fé, e, como consequência, veremos o caminho da promoção da pastoral vocacional ampliar-se grandemente, facilitando o discernimento dos corações para o chamado sacerdotal ou para a vida consagrada ou ainda matrimonial. Recordo-me do disse São João Paulo II: “A família é celeiro de vocações”. Mas, família de que tipo? Consciente de quem ela realmente é, e daquilo que ela piamente crê pela fé de seus membros numa adesão total a Cristo Jesus. 
          Como Bispo, questiono: A sua paróquia está valorizando devidamente a Pastoral da Família? Sei que há paróquias mais sensíveis e empenhadas ao trabalho da promoção familiar e vocacional; outras, entretanto, ainda precisam alertar-se para esta realidade que precisa de maior atenção por parte dos sacerdotes e leigos, pois se trata de uma grande lacuna que precisa de imediata solução à luz de Cristo, que continua a passar e a chamar, vocacionar. Eis o meu apelo: É preciso ver a dinâmica e a abertura que se dá para os jovens escolherem livremente o caminho a tomar. Uma boa pastoral familiar e vocacional se faz necessária envolvendo casais, sacerdotes, religiosos e jovens. Assim sendo, todas as vocações terão o devido lugar no panorama do serviço da Igreja diocesana. Esquivemo-nos da “pastoral da manutenção.”.
            Concluo o nosso pequeno texto sobre o assunto tratado com o pensamento do Papa Emérito Bento XVI: “Os homens […] sempre têm necessidade de Deus, também o nosso mundo tecnológico, e sempre haverá necessidade de pastores que anunciem sua Palavra e que façam encontrar o Senhor”.

                       Dom Dulcênio Fontes de Matos

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