JESUS REI E OS PRETENDENTES A REI DOS JUDEUS

Jesus não foi o único judeu acusado por um oficial romano como pretendente à realeza, a rei dos judeus. Horsley e Hanson (HORSLEY, R. A.; HANSON, J. S. Bandidos, profetas e messias: movimentos populares no tempo de Jesus. São Paulo: Paulus: 1995, p. 89) sublinham que tanto antes como depois de Jesus, houve diversos líderes populares pretendentes a reis, com os quais os oficiais romanos tiveram de lidar. Tais líderes reivindicavam a realeza, usavam coroa real ou eram proclamados reis pelos seus seguidores. De tal modo que a pretensão real tornou-se um movimento popular messiânico que foi forte em dois períodos.
O primeiro ocorre após a morte de Herodes, o Grande, cerca de 4 a.C. Diante da opressão desse rei sobre o povo, que nem o reconhecia como rei legítimo, passou-se a esperar por um líder carismático, “ungido”, surgido do meio do povo. Com a morte de Herodes, surgem movimentos populares com uma onda de pretendentes a reis, cujo objetivo principal era derrocar a dominação herodiana e romana e restaurar os ideais tradicionais de uma sociedade livre e igualitária. Flávio Josefo fala das agitações da Judeia, em que certo Judas, filho de Ezequias, certo Simão e certo Artronge se insurgiram como pretendentes a reis. Horsley e Hanson apontam que no caso desses líderes, tais movimentos estavam centrados em torno de um rei carismático, por mais humilde que fosse a origem, e que, portanto, o povo não estava procurando um líder entre a classe nobre. Em sua maioria eles eram oriundos dos camponeses.
O segundo período desses movimentos populares foi o de 66-70 d.C, durante o qual ocorreu a queda de Jerusalém. Diante de outra realidade de opressão do povo, sob o então governador romano Floro, alguns movimentos de resistência começaram a levantar-se. O próprio Tácito, historiador romano, fala que a maioria acreditava que os livros sacerdotais antigos continham a profecia de que este era o tempo em que o Oriente prevaleceria e homens vindos da Judeia dominariam o mundo. Nesse período, as esperanças populares de um rei ungido eram fortes e difundidas.
Por sua vez, conforme Raymond Brown (BROWN, R. A morte do Messias, vol. 1. São Paulo: Paulinas, 2011, p. 823), em comparação com Jesus, o primeiro desses movimentos atuou trinta anos antes do seu ministério público, num período em que ainda não havia prefeitura romana, e o outro atuou mais de trinta anos depois de sua morte, na tentativa de cessar a prefeitura romana. De tal modo que, segundo Brown, seria incorreto falar de pretendentes reais no tempo de Jesus, uma vez que a Judeia foi mais bem governada sob Pilatos e na primeira prefeitura do que na época em que surgiram os pretensos reis, nos últimos anos de Herodes, o Grande, e nos últimos anos da prefeitura romana.
Horsley-Hanson, por outro lado, recordam que em aldeias e cidades como Emaús, Belém, Séforis, precisamente na época em que se presume que Jesus nascera, houve diversos movimentos de massa compostos por camponeses judeus, sob a liderança de personagens carismáticos considerados reis ungidos dos judeus, e tais movimentos ocorreram na Galileia, na Pereia e na Judeia. De tal modo que a memória desses movimentos messiânicos populares ainda estava bem viva na mente do povo judeu que presenciou as ações de Jesus.
Entretanto, é bem sublinhado por Raymond Brown que diferentemente das figuras messiânicas dos dois períodos, os seguidores mais íntimos de Jesus não eram camponeses, mas pessoas com ocupação independente; não formavam um grupo armado organizado; Jesus foi preso desarmado, não foi preso em batalha ou depois dela e não pretendia instituir um reino político.
(PADRE MARCOS ANDRÉ MENEZES)

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