HOMILIA DA MISSA DE POSSE DOS PODERES EXECUTIVO E LEGISLATIVO EM P. DOS ÍNDIOS

(Catedral Diocesana, 01 de janeiro de 2017)

            Excelentíssimo senhor Prefeito Municipal Júlio Cezar da Silva,
            Excelentíssimo senhor Vice Prefeito Dr. Márcio Henrique,
Caríssimos vereadores e secretários,

Dentre as diversas teorias acerca do poder político, existe uma que trata o ato de governar como um ministério dado por Deus para o bem da humanidade. Tal argumento, encarado sob o ponto de vista da Divina Providência, inculca em quem é designado para uma função pública, não somente uma grave responsabilidade, um peso, mas embute na pessoa eleita a perspectiva da nobreza de sua atividade junto aos cidadãos, que perpassa pela consciência da cooperação com Deus Criador e ordenador de tudo quanto existe, e que quer precisar de pessoas humanas como instrumentos Seus nos mais variados âmbitos da história, inclusive no social.

Desde Aristóteles, passando por filósofos cristãos como Santo Tomás de Aquino e Jacques Maritain, se convém que a arte da política consista na consecução do bem comum. Esta ideia, associada aos ensinamentos do Senhor de serem os seus discípulos “Sal da terra e luz do mundo” (cf. Mt 5,13.14), bem como “fermento na massa” (cf. Mt 13,33) para a transformação da sociedade, tudo isto interpretado pelo Magistério da Igreja, dá aos homens de fé que se imiscuem na vida político-partidária elementos-chave, pistas, para um bom sucesso dos seus mandatos, propiciando não o subjetivo bem de si mesmos ou dos interesses dos seus, mas, em tudo, a dignidade de todos, sem distinção.

Sendo o homem público o “delegado por Deus” para promover a dignidade humana no bem dos seus súditos, este deverá ter uma profunda e fina percepção de que todos aqueles que lhe são confiados devem ser vistos como “imagem e semelhança” (cf. Gn 1,26) de Deus, principalmente os marginalizados e carentes de justiça social. Com este mesmo sentido, o Concílio Vaticano II, na sua Constituição Pastoral ‘Gaudium et Spes’ diz: “[…] o exercício da autoridade política, seja na comunidade como tal, seja nos organismos que representam o Estado, se deve sempre desenvolver e atuar dentro dos limites da ordem moral, em vista do Bem Comum, dinamicamente concebido, de acordo com a ordem jurídica legitimamente estabelecida ou a estabelecer […] daqui a responsabilidade, dignidade e importância dos que governam” (GS 74).

Friso dois pontos de grande importância. O primeiro: as autoridades devem agir “dentro dos limites da ordem moral”, significando dizer que os governantes não estão acima do bem e do mal; tampouco devem promover leis que vão de encontro ao que é justo e reto, tal como prescrevem a lei eterna que Deus pôs no coração dos homens quando se revelou, principalmente em Cristo, e a lei natural que promove a vida como dom. Os homens do poder devem estar ao desserviço de toda e qualquer imoralidade e escândalo. Como os brasileiros estão cansados deste mal-estar na vida política do seu País! O segundo: “[…] a dignidade e a importância dos que governam” não se estabelece no status que têm diante dos seus súditos, e sim na responsabilidade que possuem, porque são servidores primeiros dos cidadãos, não estando acima deles, inertes no conforto dos gabinetes e no usufruto de sua rentabilidade.

Esta Missa, que coroa em importância diante de Deus a posse do senhor Prefeito Municipal e de sua equipe, tem como Liturgia a Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus. Creio que os senhores tenham que aprender na “Escola de Maria”, que nos dá muitas lições para o serviço, seja a Deus, seja a humanidade. Desde o peregrinar à região montanhosa da Judeia, expondo-se aos perigos para auxiliar a sua idosa prima Isabel, que estava grávida, permanecendo com ela três meses (cf. Lc 1,38-45); até Caná, quando das Bodas, antecipando a “hora” de Jesus na preocupação com os noivos pela falta do vinho (cf. Jo 2,1-12). E, no Céu? Também lá, junto ao Trono de Deus, Maria continua servindo a humanidade com a sua materna intercessão.

Senhor Prefeito e coadjuvantes, a humildade dever-lhes-á preparar para reconhecer no povo – inclusive nos seus protestos e reivindicações – a qualidade das suas ações no poder, que é exercido em nome de cada cidadão, indistintamente. Ao grito dos populares, deverá se unir a voz de uma consciência sensata da parte dos senhores. Não desejem o “populismo” que aliena os cidadãos e anestesia a sensatez de quem exerce o poder pela vaidade ou outros interesses vis, rasteiros. Aprendam nas turbulências das crises, porque “[…] quando a autoridade pública, excedendo os limites da própria competência, oprime os cidadãos, estes não se recusem às exigências objetivas do bem comum” (GS 74). Por vezes, quando o Evangelho e o bom senso (iluminado pela Verdade de Cristo) lhe derem a devida razão, “a voz do povo será a voz de Deus”.

Que a Virgem do Amparo, a exemplar serviçal de Deus e da humanidade, possa auxiliá-los nesta gestão hora iniciada, e clarifique as suas atividades com a luz do Seu Filho, “Caminho, Verdade e Vida” (Jo 14,6), para o bem do nosso povo. Amém.


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