UM CHAMADO QUE CONTINUA
Na transição
do mês de agosto para o de setembro, do alcunhado mês vocacional para o mês da
Bíblia, é de bom alvitre que reflitamos sobre como a fidelidade de Deus em
chamar ministros que O sirvam e representem-No se perpetua. E, para tanto,
creio que devamos tomar por base dois textos bíblicos para elucidar aquilo que,
a partir de Cristo, é constante na vida e na história da Igreja.
Primeiramente,
ainda que por um breve momento, desejo reportar-me à vocação do Profeta Samuel
(cf. 1Rs 3). Muito embora seja da literatura vétero-testamentária, esta
passagem fala muito ao coração daqueles que são impelidos ao chamado do Senhor
da Messe e Pastor do Rebanho. Na jovialidade de Samuel, há um exemplo
inequívoco da dinâmica vocacional: o Senhor que procura corações para o Seu
santo serviço. Para tanto, faz-se necessário que ao chamado caiba a atenção e a
disponibilidade de uma resposta positiva: “Ele é o Senhor; faça o que for
agradável aos seus olhos” (1Rs 3,18). Assim a ação vocacional se inspira num
diálogo de amor, de correspondência para com O que chama. E nesta generosidade,
o que é chamado descobre-se, e, descobrindo-se, vive feliz, realizado.
Também do
Antigo Testamento, pomo-nos diante da vocação do Profeta Jeremias. No decorrer
do Livro do Profeta ora em voga, temos muitas ênfases deste caminho de
amor-eleição-chamado. Iniciemos a nossa observação na memória que o próprio
Jeremias faz de sua convocação: “Foi-me dirigida nestes termos a palavra do Senhor: ‘Antes que
no seio fosses formado, eu já te conhecia; antes de teu nascimento, eu já te
havia consagrado, e te havia designado profeta das nações’. E eu respondi: ‘Ah!
Senhor, eu nem sei falar, pois que sou apenas uma criança’. Replicou, porém, o
Senhor: ‘Não digas: Sou apenas uma criança: porquanto irás procurar todos
aqueles aos quais te enviar, e a eles dirás o que eu te ordenar. Não deverás
temê-los porque estarei contigo para livrar-te’ - oráculo do Senhor. E o Senhor,
estendendo em seguida a sua mão, tocou-me na boca. E assim me falou: ‘Eis que
coloco minhas palavras nos teus lábios. Vê: dou-te hoje poder sobre as nações e
sobre os reinos para arrancares e demolires, para arruinares e destruíres, para
edificares e plantares’” (Jr 1,4-10). Uma eleição para agir em nome do próprio
Deus, que concede os meios para a execução do apostolado, da missão confiada.
Também no escrito de
Jeremias, encontramos a força cativante do chamado do Senhor àqueles que, de
fato, são sensíveis se tornam irresistíveis ao amor eletivo de Deus:
“Seduziste-me, Senhor; e eu me deixei seduzir! Dominaste-me e obtiveste o
triunfo” (Jr 20,7), provando como um vocacionado por Deus não encontra a sua
felicidade – já neste mundo – longe da proposta feita pelo máximo amor de Deus.
Ainda em Jeremias, encontramos acerca da fidelidade do Senhor, que não deixa o
seu povo ao abandono, mas concede-lhe pastores, que, em Seu nome e na Sua
caridade, o governam: “Dar-vos-ei pastores segundo o meu coração, os quais vos
apascentarão com inteligência e sabedoria” (Jr 3,15).
Se este processo e esta
promessa foram válidas para o Povo da Antiga Aliança, por que não as serão para
a vida da Esposa de Cristo, a “Senhora Católica”? O Senhor continua a chamar, a
oferecer novas dimensões de vida: a de apascentar em Seu nome o grande rebanho
da Igreja. Novas com a novidade do Alto; novas porque fazem configurar ao
Coração do Eterno Novo; novas, por fim, porque vão de encontro a tudo aquilo
que o mundo impera como segurança e como valer a pena a vida.
A este chamado foram
solícitos os jovens Fábio Freitas, Ronny Dennysson, Cícero Hélio, Marcos
Renildo, Clebson Santos e José Paulo. Nestes dias, respondem com convicção e
vigor, positivamente, à proposta inquietante e desafiadora de Deus. E o fazem
na mesma perspectiva do salmista: “Subirei ao altar de Deus: do Deus que é a alegria da minha juventude!
(Sl 42,4). E o fazem ainda percebendo que o Senhor os chama para uma
configuração radical ao Cristo Sacerdote. Creio que estes irmãos nossos provam
o que o Senhor já nos demonstra no Evangelho, que Ele passa chamando: “Ide também vós para minha
vinha! (Mt 20,4.7). E mediante este atendimento, pastores vão se sucedendo,
fazendo de suas vezes as atitudes do próprio Senhor.
Faço votos de que estes
nossos irmãos, que ora respondem a Deus, que continuamente chama, sejam felizes
pela resposta que dão. E que esta felicidade não se restrinja somente a si
mesmos, mas fecundem o coração dos filhos da Igreja, que anseiam por “dignos
ministros do Altar, santos e dedicados pastores do povo cristão”. Além disso,
auguro que muitos jovens possam corresponder à vocação que o Senhor lhes
inspira, que, com o seu ‘sim’, façam jus também a fidelidade do Senhor para com
a sua amada Igreja.
Dom Dulcênio Fontes de
Matos
Bispo Diocesano de
Palmeira dos Índios
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