VIVA A VIRGEM IMACULADA, A SENHORA APARECIDA!
Nesta Solenidade de Nossa Senhora Aparecida, somos
transportados, por meio da liturgia, a Caná da Galileia, onde se celebra uma
festa de casamento. O evangelista chama a atenção para a presença de uma
importante convidada: a mãe de Jesus. Também foram convidados o próprio Jesus e
seus discípulos. O cenário é de muita alegria.
De repente, surge uma necessidade: “Eles não têm mais
vinho”, diz a atenta mãe ao filho. Maria sabia que a alegria daquela gente estava
ameaçada. O vinho era um elemento essencial nas festas judaicas. É justamente
nesse contexto de carência que Jesus realiza o seu primeiro milagre,
transformando água em vinho. No Evangelho de João, “milagre” é chamado de “sinal”
(em grego, sêmeion), ou seja, “uma ação realizada por Jesus que, sendo visível,
leva por si mesma ao conhecimento de uma realidade superior” (J. MATEOS–J. BARRETO,
Vocabulario teológico del Evangelio de Juan, pp. 269-270). Os sinais
realizados por Jesus não somente são autorrevelação de sua identidade messiânica,
mas também manifestação de sua glória, glória que conduz à fé. Qual é, então, o
papel de Maria na realização desse sinal? O que significa a presença dela nessa
festa de casamento? Qual a mensagem do texto evangélico para nós?
Primeiramente,
o Evangelho de João atribui a Maria um importante papel na história da
salvação. Notemos que ela é citada em primeiro lugar e de forma individual. Sem
dúvida, o destaque dado pelo evangelista anuncia o papel especial que ela desempenhará
na realização do milagre. De fato, Maria põe os criados a serviço de Jesus: “Fazei
o que ele vos disser”. Com esse pedido indireto, ela manifesta uma absoluta
confiança em seu filho. Observa um exegeta evangélico: “Esta confiança se
concretiza em uma serena abertura ao futuro, na firme esperança de que Jesus
atuará de uma forma reparadora e libertadora. De acordo com isso, a mãe de Jesus
encarna o rosto da fé, uma característica que se confirmará na cena ao pé da
cruz (Jo 19,25-27) ” (J. ZUMSTEIN, El Evangelio según Juan, I, p. 120).
Em Caná da Galileia, a presença da mãe de Jesus tem um
significado muito importante: representa o Povo de Israel, aquele pequeno resto
que permaneceu fiel às promessas divinas. Maria, fiel à Antiga Aliança, pede
aos serventes que sejam fiéis à Nova Aliança que Jesus inaugurará na “sua hora”.
Caná significa a passagem do “velho” (representado pela água das talhas) ao “novo”
(representado no vinho bom e abundante), do Antigo ao Novo Testamento. Mais ainda:
Caná significa a superação da Antiga Aliança. O tempo messiânico chegou. Jesus,
o verdadeiro esposo, é quem nos oferece o vinho bom, e o vinho que ele nos oferece
é a sua palavra, a sua sabedoria, a sua lei. Caná é um convite à fé. Com sua
presença discreta e atenta, Maria nos ensina que diante de Jesus devemos estar
totalmente disponíveis. Os serventes da festa de casamento simbolizam os discípulos,
pois também eles devem fazer o que Jesus disser. Nós, discípulos de Jesus no
mundo de hoje, também devemos estar atentos ao pedido de Maria, pois ela, como
mãe e discípula, conhece a hora do seu filho, sabe o exato momento de agir.
Maria conhece “as necessidades da comunidade”, diz um
biblista italiano (D. MARZOTTO, La tunica e la rete, p. 35). Ela conhece
as nossas carências. Por isso desempenha o papel de mediadora, estabelecendo assim
uma relação direta entre o seu filho e as nossas necessidades humanas e
espirituais. Como em Caná da Galileia, também hoje Maria está entre Jesus e nós.
Que nesta Solenidade de Nossa Senhora Aparecida, padroeira de todo o povo brasileiro,
cada um de nós esteja atento às palavras maternas de Maria, e saiba o jeito
certo de ser cristão e fazer a vontade do seu filho.
Sacerdote da Diocese de Palmeira dos Índios em estudos acadêmicos na Espanha
Bibliografia: FLANAGAN, N. M., “João”, em D. Bergant–R. J. Karris (orgs.), Comentário
bíblico, III. Evangelhos e Atos. Cartas. Apocalipse,
Loyola, São Paulo 20138; MARZOTTO,
D., La tunica e la rete. Commento spirituale al “Vangelo di Giovanni”, Àncora,
Milano 2019; MATEOS, J.–BARRETO, J., Vocabulario
teológico del Evangelio de Juan, Cristiandad, Madrid 1980; ZUMSTEIN, J., El
Evangelio según Juan, I. Jn 1–12, Sígueme, Salamanca 2016.
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