DEUS CONTINUA CHAMANDO...
D. Dulcênio Fontes de Matos,
Bispo de Palmeira dos
Índios
Como sabemos de salutar costume, o
mês de agosto é dedicado às vocações. Nesta ocasião, recordamos as páginas da Bíblia
Sagrada que descrevem o chamamento de Deus, situando-as, em nossa humílima
opinião, entre as mais belas perícopes da Escritura. Aqui, citamos apenas
alguns exemplos: a vocação de Abraão (Gn 12), a convocação de Moisés (Ex 3), e invitatório
aos profetas Isaias (Is 6) e de Jeremias (Jr.1). Já com estas demonstrações
vétero-testamentárias, notamos que todas as vocações têm por objetivo uma
missão. Observemos, mais além, olhando o Novo Testamento. Aí, pedagogia não
muda. Já na obra da Encarnação do Verbo, Deus abre este novo período solicitando
a colaboração de uma mulher chamada Maria (Lc 1,26-37). É com seu “sim” que Ele
instaura a Nova e Eterna Aliança; é n’Ela que Ele começa uma nova raça muito
mais numerosa do que a primeira, que se firmava no sangue de Abraão, a nossa,
constituída no sacratíssimo sangue de Cristo.
No “sim” de Maria Santíssima, dado no
tempo por uma criatura, vislumbramos, como que embutido, o “sim” eterno de Verbo,
segunda Pessoa da Trindade Santíssima, tal como nos afere o Salmo (39,9) e
repetido no Novo Testamento, mais exatamente na Carta aos Hebreus: “Eis que
venho ó Pai para fazer a tua vontade” (Hb10,7). A partir do Cristo, do seu
“sim” eterno, vem o “sim” dos Apóstolos: “Jesus chamou a si os que ele quis, e
eles foram até ele, para enviá-los a pregar...” (Mc 3, 13-15); “Respondeu-lhe
Simão Pedro: Senhor, a quem iríamos nós? Tu tens as palavras da vida eterna”
(Jo 6,68).
O chamado do
Senhor continua ao longo da história do ‘Novo Povo de Deus’, no decorrer da
vida da Igreja. Suscitou um convite ao seguimento para os Padres (pais) da
Igreja Primitiva (papas, bispos, sacerdotes, monges), homens e também mulheres
que, inspirados pelo Divino Paráclito, debruçaram-se na vida contemplativa dos
altíssimos mistérios e na espiritualidade cristã, fazendo-nos angariar as
riquezas de um cristianismo nascente. Após a era patrística, muitos bispos, sacerdotes,
religiosos, religiosas e fiéis leigos que, generosamente, responderam e
cotidianamente correspondem ao apelo do “Senhor da Messe” (cf. Mt 9,38) e que
se encontram empenhados na missão da Igreja no ontem e no hoje. Por tal
engajamento, com toda justiça, a Igreja chama-nos, discípulos e discípulas,
missionários e missionárias do Cristo Senhor.
A graça de Deus nunca faltará. Ele
continuará a conceder a muitos jovens e moças os dons da natureza e da graça
para escolherem a vocação sacerdotal ou religiosa. Sabemos que sempre haverá,
potencialmente, padres, religiosos e religiosas. Entretanto, temos que os descobrir,
como Jesus descobriu os apóstolos e os chamou. É o despertar vocacional.
Haveremos de orar, pedindo ao Senhor da Colheita que nos mande vocações
sacerdotais e religiosas para a edificação da Sua Igreja, Seu larguíssimo campo.
Não bastará perguntar repentinamente a uma criança, adolescente ou jovem, se
ele quer ser padre, se ela quer ser freira. Não, não se trata disso! Fazendo
desta maneira corremos o risco de a sua resposta ser aquela que, não raras
vezes escutamos deles próprios: “- Não, porque padre não casa”; “ Não. Não
quero ser freira. Porque freira não casa”. Salta aos olhos que ele ou ela não
sabe o que é casar, e, muito menos, o que é ser padre ou freira, faltando-lhes
a compreensão vocacional (ao sacerdócio, à vida religiosa ou matrimonial),
faltar-lhe-á o devido discernimento.
Devemos convencer-nos da necessidade
da implantação da Pastoral voltada à ação vocacional para combater a
indiferença, a presunção, o derrotismo. São atitudes necessárias para qualquer
promoção vocacional. Chega de pessimismo! Estamos de acordo de que carecemos de
mais sacerdotes, mais religiosos e religiosas, mais missionários leigos. Enfim,
precisamos de famílias cristãs mais bem orientadas, conhecedoras da Palavra de
Deus e da própria Doutrina da Igreja; catequizados, portanto. Já dizia o Beato
João Paulo II que a família é a mãe de todas as vocações.
Particularmente,
como Pastor da Igreja particular de Palmeira dos Índios, reconhecemos a
importância de agradecer a Deus pelas vocações que surgem para o sacerdócio;
constatamos, com alegria, que os “sim” se multiplicam, palpitam em vários
recantos de nossa Diocese porque acontecem no coração de nossos destemidos
jovens. Estes “sim” saem deles que profusa e entusiasmada, espontânea e alegremente
eles o repetem. Saem igualmente dos adultos, pais e mães de famílias, que atuam
nas missões, nas pastorais, na catequese, no meio onde vivem. Que acendimento
se apresentam os inúmeros animadores e animadoras de Comunidades, anunciadores
da Palavra, promotores de união e entendimentos entre as pessoas.
Nosso desejo, nossa oração é que, a cada
dia, aumente as respostas positivas ao convite de Deus – misto de exigência,
inquietação e satisfação. Que se apresentem muitos novos operários para a
construção do Reino de Deus, para a Sua glória, para o nosso bem e de toda a
Santa Igreja.
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