REFLEXÕES sobre as leituras do 29o DOMINGO DO TEMPO COMUM, ANO C
Êxodo 17,8-13;
Salmo 120; 2Timóteo
3,14-4,2; Lucas 18,1-8
A linha tomada do Salmo 120 como resposta, “Nosso auxílio está no nome do Senhor que fez
o céu e a terra”, é um tema chave recorrente em nossas leituras de hoje. A
leitura do Êxodo conta a história da importância da fé de Moisés em Deus quando
os israelitas encontram seu inimigo mortal, Amalec, que permaneceria como
símbolo de todos aqueles que perseguiram o povo judeu através da história,
baseado na injunção no Deuteronômio (25,17), “Recorda-te de Amalec!”.
Antigos exércitos do
Oriente Médio entraram em batalha atrás de padrões simbolizando seus deuses,
daí a imagem de Moisés, suas mãos erguidas e apoiadas por Aarão e Hur, apresentarem um padrão simbólico para
lembrar ao povo que Deus está lutando por eles. O altar construído para
comemorar a vitória deles é chamado “Adonai-
nissi” – “O SENHOR é meu
estandarte” [Ex. 17,15].) De Moisés é dito que suas mãos eram “firmes” ou “estáveis”, mas a tradução literal do hebraico é que elas eram “emunah” – “fé”. O Rabbi Nachman de Bratzlava, do século
18, diz, “Há uma fé que está apenas no coração, e que não é suficiente. Ela
deve permear o corpo todo, como em Moisés cujas mãos ‘eram fé’.” Isto está em
contraste gritante com os israelitas que, justo antes desta passagem no Êxodo,
mostraram sua falta de fé em Deus que
tinha resgatado-os da escravidão do Egito, por “resmungarem” contra Moisés e Deus, quando foram tomados pela sede
no deserto.
Nós podemos, às
vezes, estar em perigo de esquecer que, como o Salmo 120 diz, “Nosso auxílio
está no nome do SENHOR”, mas este salmo deve nos assegurar da constância de
Deus para conosco, pois “Ele não cochila nem dorme”. A palavra
chave de segurança, “guarda” (“shomer” em hebraico), ocorre seis vezes
nas oito linhas do salmo! – tanto que o salmo torna-se uma comovente expressão
de confiança, de fé em Deus, usando linguagem tradicional e repetição
padronizada. O clímax vem nas duas últimas linhas do poema, onde três de seis
repetições de “guarda” ocorrem. As palavras finais, “agora e sempre”, referem-se à natureza eterna da proteção de
Deus.
No Evangelho de Lucas, Jesus escolhe para
esta parábola uma viúva como exemplo de fé persistente e confiança em Deus.
Como aquele que nem teme a Deus nem respeita qualquer ser humano, o juiz sem
coração está em contraste direto ao juiz do 2º livro das Crônicas 19,5-6, sobre
quem o temor do SENHOR repousa, enquanto os profetas castigam os juízes venais
e sem coração (veja Amós 2,6-7;
5,10-13). No coração da parábola está a
batalha entre a viúva e o juiz. Em ambas as escrituras, hebraicas e cristãs, a
viúva é um exemplo de impotência, com freqüência vítima de injustiça. A viúva na parábola vem só à porta da cidade
onde os juízes presidem e não aceita um “não” como resposta em sua busca por
justiça. As traduções do grego podem mascarar o humor desta parábola – uma
moderna paráfrase das reflexões do juiz seria: “Porque esta viúva está trabalhando sobre mim, vou reconhecer seus
direitos para que ela não me deixe com o olho roxo por sua falta de vontade de
desistir”! Os ouvintes de Jesus são confrontados com uma nova visão da
realidade inaugurada pelo reino de Deus, onde as vítimas clamam seus direitos e
buscam justiça – frequentemente, de modo surpreendente e inquietante. A justiça
de Deus está ao lado dos fracos e vulneráveis e isto Ele vai assegurar-lhes
enquanto clamam dia e noite – “Ele não
cochila nem dorme” diz o Salmo 120.
A questão conclusiva na passagem sobre se o Filho do Homem encontrará fé
em sua volta é uma referência à comunidade dos cristãos primitivos para quem
Lucas está escrevendo, que são conscientes da demora do retorno antecipado de
Jesus e estão tendo sua fé testada. Somente através da oração a fé pode ser
assegurada. A oração contínua, exortada na parábola, não é simplesmente
passiva, aguardando, mas uma questão ativa por justiça. Permanecer fiel é também a mensagem da Segunda Carta a Timóteo: “Deves permanecer firma naquilo que
aprendeste e aceitaste como verdade.”
Nós, também
precisamos ser nutridos por um tipo de oração, persistente e corajosa diante do
mal, incorporada pela viúva na parábola. Como Moisés rezando por seu povo, tal
oração pede o apoio dos outros e, sem dúvida, o salmo nos conta que nosso
auxílio está no “SENHOR, que fez céu e
terra” e que, como Aarão com Moisés está
“à sua mão direita’”– a verdadeira fonte de nossa fortaleza.
O comentário desta semana foi preparado por
Irmã Margaret Shepherd, NDS
e traduzido por
Maria Cecília Piccoli, Colégio Nossa Senhora de Sion –
Curitiba, Brasil Bat Kol Alumna, 2006, 2007
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